quinta-feira, 5 de abril de 2012

Chagas

Meta o dedo na ferida
e diga que não é verdade,
diga que não é úlcera infecciosa,
diga que não é carne trêmula.
Meta o dedo na ferida,
e sinta o fel escorrer,
sinta o sangue pulsar,
o vermelho ferver.

Meta o dedo na ferida,
e negue que é tua.
Se é tão melhor quanto finge ser,
se é tão maturo,
honesto,
seguro,
superior.

Se é,
porque mente?
Monta teu caráter,
apontando o dedo na cara de Judas
e beijando a outra face de Jesus.

Vive uma vida negando a imortalidade de seus atos,
se é tudo efêmero,
para que padecer de preocupações?

Minta, tua vida toda,
equilibrada entre o errado e o incerto,
mas não venha contar,
não venha me cobrar
as responsabilidades,
os atos,
os fatos,
que você não teve.