quarta-feira, 24 de junho de 2009

Texto de Quarta-Feira.

Não é porque eu não diga, queira dizer que eu não sinta. Eu sinto e quero dizer, e sabes disso. Nem que seja por cartas, olhares profundos, diretos ou distantes, textos, metáforas e hipóteses...


Tão estranho agora eu não conseguir mais me fantasiar pateticamente de ti, imaginando-te aqui, tua fala aqui, tuas palavras à mim. Deve ser a distância, que agora somente te encontro em trechos de poesias, artes, músicas e fotos, nada material, nada 3D, nada de carne, osso, ritmo, coração e calor. Minhas dores agora não são pequenas,grandes ou existentes: são constantes. E após tanto tempo sem chorar, não sei se é capaz...deixa para lá.

Eu não quero mais conservar o coração, ah eu já escrevi tanto para ti, por ti, sobre ti, não vês? Não percebes? Que tudo meu, é teu, entrego à ti. E por que, agora, sempre que vejo algo teu em qualquer outro lugar, sinto vontade de chorar, sinto ciúmes (pois sempre soube que aquilo tudo é meu), sinto raiva(de mim) ?

E sempre quando somos nós, sinto vontade de parar o momento em uma fotografia, em um vídeo, em uma vida eterna nossa. Lembra-te dos planos? lembra de matacavalos? Éramos dous criançoulos ... agora, não é momento para Machado de Assis, mas não pude evitar a citação.

E por que és tão seguro que estarei sempre aqui? Sabe... mudaste tanto desde quando éramos dous criançoulos . Foi uma mudança...drástica? Não te preocupas mais com os outros? Nunca te vi egoísta... Que eu me lembre, sempre dedicado, sempe atento, sempre espontâneo, sempre.

Sempre, outra palavra que devo excluir do meu vocabulário? Pois sempre senti necessidade de juntá-la a outras três que costumam(vam) ser tão comuns aqui. Ainda há de ser, mas o ouvido desacostuma a ouvi-las com a mesma frequência.

Ah! Oras Nara Lúcia, deixa disso, deixa o passado ser passado. Construa teu futuro nas bases do presente. Mas como faço então, se quero que meu presente seja o passado que nunca desejei ter se dissipado? Fico até con vergonha de mim, em admitir que no momento sou uma emergência, uma urgência, afogando no alagamento que causei.

Queria dançar contigo, lembra-te das valsas? Ou mesmo refrões de bolero ["seus lábios são labirintos, ana..." ]. Eu vou crescer e morrer. E a lembrança como ficará se não houver meio de te guardar? Para sempre meu, pequeno príncipe. Garanta à mim, prometa-me, que não haverá volta, já que nunca partirás.

Que belo dia!

Antes, existia um presente que seria para sempre imutável, constante e duradouro. Hoje, existe um passado melodramático e que não me pertence mais como lembrança... Como se tivesse passado mudo. Como uma sombra, no palco, projetada pelos flashes, graças à inconstância e intermitência da luz. Tem tudo a ver com luz, as cores são luz, os olhos são luz. O passado que era luz.

Hoje já vejo as luzes conforme as estações passam, no verão as garotas são tão mais bonitas, assim como os garotos são no inverno. Na primavera e no outono, o que me importa são as flores, e isso nunca vai mudar. O que mudou foi: o que eu considerava ser para sempre, agora só será se eu arrastá-lo para frente comigo. Pois o caminho que era único e certeiro, se divide em mais de uma saída.

Mas eu não sinto vontade, meus finais de semana não são os mesmos e eu passo alheia às luzes da noite, as quais eu sempre vi, e suas cores eram em mim fixadas. Mas à noite, as luzes são o cenário, e o cenário pouco me importa, o que me importa são os protagonistas e figurantes, os quais eu somente leio-os durante a semana. Mas então já é passado.

As sextas-feiras passam como minutos, e eu insisto em agarrá-los e torná-los infinitos, mas é claro, só na imaginação. E os sábados são domingos, e os domingos são segundas. Que belo dia. Um péssimo dia.

Eu não sinto vontade de continuar, e continuo por condução, toda vez que sigo em frente, algo me fere na memória, sinto como se gostasse de me machucar, de me quebrar, e o sorriso? Sempre sorrindo. Seriedade e graça...não combinam e eu tento ao máximo. Para você não me perguntar, para eu não insistir.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Girassol

E todo dia, eu ia brincar e construía um castelo de areia. Cada dia era diferente, uma torre maior que a outra, o telhado reto, uma folhinha no meio... mas todos caiam, talvez o alicerce era fraco. Ou o vento mais forte que minha vontade...

Um dia porém, eu me surpreendi. Construi o castelo mais alto, mais resistente, e mais bonito que já havia feito.Estava com tanto medo que o vento o levasse. Construi então a sua volta um cercadinho com gravetos. E as crianças invejosas da vizinhança? Escrevi em uma folha :

NÃO ULTRAPASSAR O CERCADINHO, NÃO BRINCAR COM O CASTELINHO
Pendurei no cercadinho... E se chover? Não tive tempo de pensar nisso, minha mãe me chamava para a janta. Ao ver no jardim o castelinho, mamãe achou bonito, mas disse que não havia espaço para ele ali, eu pedi que por favor não o derrubasse, pois no dia seguinte queria mostrá-lo as minhas amigas, o que era mentira, eu não queria dividir ele com mais ninguém. Papai viu e gostou, gostou que ficasse lá. Mamãe acha que eu brinco demais, papai acha que brincar é bom.
No dia seguinte fiquei satisfeita -aliviada aliás - que ele ainda estivesse intacto. Decidi nomeá-lo, seria então chamado : Girassol. O meu reino Girassol. Meu reino de areia. Coloquei nele cinco bonequinhos meus, e nomeei-os também, cada qual com sua coroa e importância no castelo. Todos mandavam e desmandavam, mas um, um deles se sobressaía, deixei-o na torre mais alta e mais bonita - a qual ficava a bandeira do reino. E a minha bonequinha mais bonita, com a coroa mais bonita ficava mais a frente, protegida por duas outras torres - nas quais ficavam, em cada,
um bonequinho com a mesma função e importância. Atrás das torres ficava o último bonequinho, lindo, porém mais fraco, por isso atrás, para ser protegido.
Todo dia eu pensava em algo novo para meu castelinho, não!, meu reino, o meu reino. Uma fitinha, uns tijolinhos...Era tão lindo, eu sonhava com o reino... Meu sonho de areia.
Mas a cada dia, ele se desmanchava um pouco, era tão frustrante. Eu o montava e remontava, apoiava-os com palitos, gravetos, peças de outros brinquedos. Mamãe não gostava que eu levasse todos meus brinquedos para fora, brincar com o castelinho de areia. Eu retrucava dizendo que precisa proteger meu reino . Mamãe dizia que eu sonhava demais, papai dizia que sonhar é bom.
Ele era tão frágil, tão... de areia. Um dia mamãe tentou varrê-lo, quando vi, eu briguei muito com ela, mas uma parte, a que ficava o bonequinho mais lindo, caiu, ele, por ser mais fraco, "morreu" ali. Fiquei triste, mas decidi continuar com os outros quatro...Mas não era a mesma coisa, meu coração parecia bater cada vez mais fraco pelo castelinho... Agora era apenas um castelinho.
Passei a brincar com ele apenas uma vez por semana, duas vezes por mês...até a chuva levá-lo.
Eu mantive os bonequinhos e suas coroas sujas de areias, vestígios do meu reino, eu brinco, eu converso com eles, eu conto a história do meu reino, do meu coração que se via no reino, na minha fantasia que ele não apenas reinasse, imperasse. Na minha vida... não passou de um sonho. Um sonho de areia. Mamãe diz que me frustro demais, e eu acho que ela pode estar certa.
Mas sabe, de todos os sonhos de areia que eu tive, este foi definitivamente o que mais me fez feliz.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Em uma sexta-feira treze

Hoje eu te ignorei. Me senti péssima, e meio sem jeito fui te pedir desculpas - não é que quase consigo um beijo? - eu gaguejei. Nessa hora, como explicar os motivos? Meus motivos para serem plausíveis? Eu não sei...
Só sei que meus olhos se encheram de água quando me pediu para ficar, e me perguntou porque eu estava agindo dessa forma. Eu te ignorei. Você não veio atrás. E me senti péssima.
Eu fui atrás de você, ver se você queria falar comigo. E dei de cara no muro. Voltei em mim, isso não foi bom. Percebi que por opção me distanciava, como se aquilo fosse aliviar alguma coisa. E a vontade de te abraçar? Não movi um dedo... Posso me orgulhar disso?
Você estava apenas no seu lugar de ingenuidade e áurea transparente, e eu te ignorei por isso ontem. E hoje. Perguntei se havia algo que quisesse falar comigo. Não insisti.
Nunca soube que um não poderia estar travestido em tantas formas de respostas diferentes, eu não me senti rejeitada. Eu te ignorei, porém.

Eu não sei o ponto que separa o certo do errado, e ando sempre receiosa de que posso dizer, ou fazer, algo que não deveria[...] E acabo deixando tudo apenas na idéia [...] idéias sem braço (pois não te alcançam), idéias sem pernas (pois não te seguem), idéias sem voz (pois não te atingem). Apenas idéias.
Fantasio até demais, mas sei ao menos que meus olhos não me enganam, você está ali, na minha frente, de carne, ossos e um pedido - qualquer pedido - que não tenho coragem de recusar, mas ajo como se não quisesse nada e acabo cedendo. Ocorre que eu não quero me separar dessa realidade encarnada em sonho.
Exatamente. Realidade encarnada em sonho. Entende agora, o receio de não saber quando uma coisa termina e a outra começa? Temo que devo medir cada palavra, cada ato, cada pedido. Mas como à mim liberdade é concebida, torna-se um tanto - apenas pouco, bem pouco- mais fácil para ambos os lados.
Acredito eu, que nesse jogo, não sou a única pisando em cacos de vidro. Sei da minha parte, mas o que me sobra - e como sobra- de racionalidade, me permite perceber que certas ações são premetidadas...Ah eu só lamento...
Será o perdão cabível caso eu decida... ah, até a decisão...

terça-feira, 9 de junho de 2009

O ruído, a droga e a tontura

Com a boca seca e um suspiro, acordei de repente, como em cena de filme, sentei-me na cama com os olhos abertos. Me levantei, e senti o frio do chão com meus pés descalços, sem conseguir respirar ditamente, dirigi-me a cozinha a fim de tomar água. A água gelada descia pela minha garganta inflamada e fechada. Machucava. Voltei a me deitar, pela terceira vez na noite, e não consegui dormir tranquilamente.

O ar parecia estar muito ocupado com algo mais interessante ao que invadir meus pulmões, que inflavam na tentativa de suprir oxigênio. Em vão. Tentei diversas vezes, abri a janela do quarto, o céu estava um pouco já mais claro, e frio que doía até os ossos. Me rendi então a medicina moderna : rumo ao hospital.

Conhecia todo o esquema do local, movi-me vagarosamente pois me cansava e me doía a face a cada movimento brusco. Sentei-me à esperar o médico chamar. Mais uma vez ouço meu nome errado, mas me acostumei, o importante é a dor passar.

Ouvi o diagnóstico como um apaixonado ouve seu poema favorito (que mesmo em face de maior encanto/ Dele se encante mais meu pensamento...) de cor, e repetindo silenciosamente, para mim, o que ouvia. Dirigiram me então, para a enfermagem e já sabia o que me esperava.

A agulha, o espanto, o ruído, a droga, a tontura, o palpitar, o silêncio... o ruído, a droga, a tontura, o aceleramento, o silêncio... enfim o ar.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Os dias e cores

May, 25th, 2009

É estranho saber que, enquanto seu dia foi lilás o de outra pessoa foi verde musgo. Hoje, eu acordei tão feliz, tão bem disposta, talvez porque eu não acordei as 6 da manhã como de costume, acordei mais tarde e entrei só na segunda aula, na qual recebi uma boa notícia sobre minha nota.

Passei esse dia me sentindo tão bem. Oh, ela me fez sentir bem. Especial. Eu já estava bem e só parecia melhor meu dia. Ah cheguei em casa e esse lilás se tornou mais intenso apenas, ah que sorriso enorme eu abri.

Mas a minha integridade não me permite passar em branco pelo dia dos outros, ainda mais agora. Meu lilás está tão distante desse verde musgo, como isso foi acontecer? Meu lilás deveria ser lilás para ambos, para todos, para nós. Tudo bem então,já que meu dia foi lilás, aquele verde poderia ser ao menos água, não?

Não. Não é assim. Aquele dia, aquelas palavras foram verde musgo, e aquele outro dia, aquelas outras palavras, aquele outro beijo, foi azul petróleo. Será que não sou eu que me lembro? Meu dia não deveria ter sido lilás, devido às circunstâncias.

Pela soma: um dia azul petróleo, um marrom derretido, um rosa salmão, essa soma não é igual a lilás e verde musgo. Essa soma não é igual.

Oh, como isso foi acontecer? Nossos sonhos nunca se separavam, nosso céu foi sempre o mesmo, nossas mãos sempre tão juntas e os lábios que se liam sem ao meus falar. Foi em agosto, eu acho que me lembram, e bem que me avisaram e eu não quis acreditar.

Eu não acredito. O céu será sempre nosso, os sonhos serão sempre intactos, e mesmo com tuas mãos longe das minhas e teus lábios calados, eu decifrarei cada gesto teu e pintarei o dia conforme teu sorriso. E mesmo sem aquarela, eu pintarei quadros com palavras e te venerarei com olhares.

Para que todo dia uma luz se acenda, para que todo sacrifico meu, seja revertido em amores seus
.
"ever thine ever mine ever ours"