segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

conformismo

Só falta o conformismo, essa tristeza tá demorando demais pra ir embora. O chá já acabou e estamos ficando sem biscoitos.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Para morrer feliz

  O relógio não gosta de mim, nunca gostou. Antigamente eu o ignorava, ele passava, eu fingia que nem via, depois de dar uma de difícil, eu corria atrás. Ultimamente tento conquistá-lo, mas o danado foge de mim, me ganha na marra. O tempo que tenho é o espaço entre o piscar e respirar, não vejo, não olho, não penso muita coisa que gostaria de pensar, de ver, de olhar. Ouço somente a enxurrada de ignorância opcional que existem em meus fones de ouvido. É melhor assim.
  Em algum momento desse dia, escolhi poupar meus ouvidos, e permitir o vento de me falar. No horário de verão, mesmo o rush parece mais romântico, é quase um êxtase poético ver folhas de ipê recém nascidas sendo esmagadas por volks, mercedes, fords, fiats, na impermeabilidade asfáltica. Nasci concretada, acostumei com cinza nos dias.
  Eu não sei adivinhar, nem palpitar o que vem acontecendo, pode ser a ameaça iminente do fim do mundo, ou a profecia pálida de mais um natal, os dias vem me surpreendendo, o relógio resolveu me dar uma brecha justo quando eu não precisava. Quem sou eu pra reclamar... Foi um dia diferente, começou com a alegria proletária da cesta rasa de natal, arrisquei uma satisfação, que logo acabou com a ameaça de chuva, pedi carona então.
   Enquanto esperava, o céu amarelo dizia adeus, tomando seu lugar um céu paulista, acinzentando até as árvores de primavera, eu olhava até o final da rua horizontal, por um carro reconhecível, quando, lá no fundo, lá pra perto de onde é o mercadinho (cujos preços não tem nada de - inho), avistei dois pontinhos brancos. Um mais claro. Aos poucos, os pontinhos iam aumentando, mas bem aos poucos mesmo, muito aos poucos. Até o relógio resolveu parar pra observar. O moço com a barriga grande, que eu nunca sei o nome, conversava comigo, e eu me deliciava atentamente ao seu sotaque, tentando adivinhar de onde poderia ser. Olhei novamente, e os pontinhos brancos cresceram mais um tiquinho. Outro tiquinho. Vi uma bengala, ouvi o arrastar de sapatinhos, ouvi o balançar de um terço. Passaram duas senhoras de braços dados, com passo bem lento, respeitando o ritmo da bengala designada a senhora com o terço.
  Pararam ao lado de onde eu estava, em frente a uma escadaria curta, que dava para a rua detrás. A primeira senhora, com a bengala, esperou, enquanto a segunda andou, andou, andou, andou, andou e parou a 2 metros da primeira. "Não tem problema, vamos subir, por aqui mesmo."; "Deve haver como dar a volta" "Vamos subir". Eu orelhava disfarçadamente, até elas sumirem da minha visão periférica, em direção a escadaria, e por um momento, esqueci do ocorrido.
  Passaram mais alguns bons tempos, o céu roxo quase cinza, o bar em frente recebendo mais pessoas, eu me sentia cachorro vira-lata em porta de padaria. Pessoas que chegam quando vou embora, já estavam indo embora. Passara muito tempo, encostei as costas na parede, e mexia o tronco de um lado para o outro, olhando cada vez em uma direção da rua, até que em um momento de eureka, olhei para a escadaria e vi as senhoras, afastadas, voltaram a ser pontos brancos, lá no topo, alto, longe, da escadaria, um esforço descomunal aquela bengala exercia, e faltavam três degraus, acompanhei, torcendo mentalmente, parecia fotografia que meus olhos tiravam, ou cena de filme de 20 qps.
   A iluminação feita por um único poste, e uns raios resquícios do sol, o som do vento e rodas no asfalto, e lá no final da escadaria dois senhores esperando as senhoras em sua escalada. Não contive um sorriso quando alcançaram o último degrau e foram recebidas com um abraço. Não sei o que diziam aqueles quatro quadros brancos, mas aposto que riam, e diziam sobre doenças, sobre uma nova receita, uma farmácia em promoção, o terço...
  Minha carona chegou e o relógio voltou a me apressar. Eu não quero envelhecer.

domingo, 2 de dezembro de 2012

São Paulo de Todos Os Santos

Meu café com leite e pão com manteiga paulistanos
não serão substituídos facilmente.
Gosto de conservar certos costumes
 - o jeito paulista de ser, e não estar.
Contudo, afasto o medo da mudança
típico de Morumbi.
Estou mais para Sé que Higienópolis.
Encaro a vida de frente,
com os dentes a mostra,
se for para quebrar a cara,
eu conserto o sorriso.
Apesar das enchentes de derrotas,
e o tráfego de discórdias,
não ando em círculos em marginais,
não ando em círculos em torno do meu umbigo,
não.
 Passeio...
entre as gentes na minhoca de metal,
entre os cheiros de pequi, de frango com polenta,
de chimarrão, de acarajé, de açaí, de esgoto a céu aberto.
entre sotaques...
 eu não tenho nenhum.
Sou fácilmente odiável quando sou 10 milhões e não apenas uma.
Sou nordestina,
 sou mineira,
 sou sulista,
 sou navegante da Bahia.
Sou de São Paulo e de Todos Os Santos.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Jovem Idosa

O prontuário me descreve com bursite
O receituário me prescreve uns tantos remédios
Os tantos remédios me atacam uma dor no estômago
Outro receituário me prescreve uns outros tantos remédios
A curandeira do bairro me indica um chá de tantas ervas
A rotina me leva a uns tantos copos d'água
A vontade, à cerveja.

Outro prontuário me castiga com bronquite, além de asmática, crônica.
O receituário me obriga ao pulmão, bromidrato de fenoterol
A curandeira me traz água fervente com outras tantas ervas
A rotina me traz menos dias
A vontade é de renascer.

Outro prontuário me indica o óbvio do stress
Enxaqueca
O receituário assinado como quase obituário
Me pune com tudo natural de viver
Viver assim na esteira defeituosa que vivo

Os punhos tremem,
 o estômago reclama,
 a cabeça condena,
 os olhos cerram,
 a boca não geme,
 o coração consente.

Sofro de obrigações.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Rio Tietê

Teu coração é pequeno demais,
para o tanto de alma que tenho para dar.
Talvez por isso se explique outras projeções minhas,
a busca,
eu só não sou suficiente.

Num filme, num copo, num quadro, num carro, num corpo, numa cor.

Eu sou notícia velha de jornal forrando o asfalto lameado

Numa estrada, numa cidade, numa nuvem, numa porta, numa cama.

Eu sou a falta de apetite no jantar.
Eu sou a fantasia de carnaval fora de época,
Eu sou palhaço sem alegria.

Teu barco é pequeno demais,
para o tanto de água que quero navegar.
Eu sou a poluição do mar.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Auto do Sétimo Andar

  Olhei para trás e vi que o rapaz de óculos amarelo continuava a me seguir, já havia mudado de ônibus três vezes desde que o percebi me seguindo após o fim do expediente. Agora no meu bairro, desviava de rua em rua, de esquina em esquina, enquanto pensava como consegui morar tanto tempo em um lugar onde só conheço meu prédio, mais especificamente meu andar, meu cubículo, minha janela pela fachada. Fingi abaixar para arrumar meus sapatos, ele parou, levantei rapidamente preparando para correr, então estava ele, incógnitamente, na minha frente, reconheci seus óculos e acordei.
   Acordei num espasmo, um cordão de saliva se rompeu escorrendo da minha boca, fez-se um barulho e o livro caiu no chão. Olhei para os lados, ainda com a imagem dos carros parados, a luz baixa refletindo na calçada, o cheiro acizentado da noite, mas não, era só minha sala, eu na cadeira velha e um livro no chão.
   Liguei a TV porque detesto o som dos meus pensamentos, fiz café, sentei novamente e só. A TV não me impediu de pensar. Tiquetaqueou o relógio e despertei de um desmaio consciente, exclamei em silêncio e sai para jantar, meu único sentimento do dia foi fisiológico. Sorri para o garçom, que não me reconheceu, sentei, comi, paguei. Na saída vi um rosto conhecido, olhei novamente e nada, reticente fui embora.
   Retomei a leitura do livro ao chegar em casa, a curiosidade me coçava o cérebro para lembrar o que de tão chato havia lido para me fazer dormir, já que há meses tenho insônia. Com a intenção de dormir, procurei uma posição confortável, em vão, as opções eram : meu quarto, cuja lâmpada estava quebrada (diga-se de passagem, desde que me mudei) ou a sala, onde só havia uma cadeira, que herdei de minha avó, só porque uma vez, por educação, elogiei a almofada estampada florida que ela mesma havia encapado. " Ficou linda a cadeira, vovó" "Gostou mesmo? Eu que fiz. Sem ajuda!" toda orgulhosa pela prova de superação do Parkinson. Alguns meses depois, morreu.
   Não foi difícil achar a página a qual parei, esta, estava amassada pelo tombo que levou, mas o livro era tão chato, que nem me importei, logo eu, que sempre tomei tanto cuidado com meus livros, me importo mais com estes do que com gente, ainda mais a gente que eu conheço. Olhei para as palavras sem lê-las, até achar uma que reconhecia, a partir de então, retomei a leitura do início do parágrafo.
Olhou para mim, mas continuou andando, pareceu não me reconhecer, estou tentando lhe alcançar desde a saída do trabalho, sem sucesso. Agora no bairro que tanto conheço, desvia de rua em rua, parecendo me mostrar o lugar, como guia, e como poderia não me recordar da cidade? Parou um momento e aproveitei para lhe falar - deixei o livro cair no chão, me levantei e ri, a sensação de "dejavú" e ceticismo me tomaram. Sonhei com o livro, um livro chato, tanto que nem me lembrava, quando acordei, do que havia lido. Minhas pálpebras pediam clementemente para fecharem-se, o meu cérebro que não permitia. Podia ouvir o sangue passando por minhas artérias, me distraí daquele silêncio incômodo retomando o livro, deitei no chão com a face para frente à lâmpada, tapei a luz com o livro, li.
   Acordei e percebi que já se passava do meio-dia, um cheiro forte de carne de porco ardiam minhas narinas, levantei do colchão e procurei minhas roupas, aquele quarto fedia a fungos e comida de bar. Percebi que um pé de meia havia sumido, e percebi da pior forma possível: pisando em uma poça d'água vinda do banheiro. Me conformei, vi o livro caído aberto, longe da poça, me estiquei para alcançá-lo, me doeu todo o corpo, dos mindinhos dos pés até as maçãs do rosto, sorri de dor.
Com o livro embaixo do braço, fui até o bar e perguntei pelo ponto de ônibus, "além de insônia, tenho sonambulismo" pensava enquanto o senhor com cheiro de suor e feijão me explicava o caminho. Demorei para chegar em casa, se não fosse o cheiro de porco, nem teria percebido a viagem. Tentava insistentemente lembrar, ou imaginar, como poderia ter acordado no outro lado da cidade. Enfim cheguei, me enfiei no chuveiro.
   Liguei a TV, e larguei meu corpo encharcado no chão empoeirado da sala, suspirei como defunto no caixão. Minha cabeça doía, luzes dançavam no escuro dos meus olhos fechados, meus dentes pareciam querer me devorar, minha respiração era asmática porém constante, a garganta pediu água, eu atendi.
   Tomei a decisão de trancar a casa antes de ler o livro, cair no sono e sair como zumbi, por sei lá onde. Esperei passar da meia-noite para então retomar a leitura, alguns flashes tomavam minha mente, lembranças de sonhos passado, eu não sei o que eram, sentia uma pancada no tórax a cada flash, o bumbo de uma música alta. Abri o livro e não parecia que eu tivesse avançado muito na leitura noite passada, decidi então persistir dessa vez.
  Cheguei tarde em seu apartamento, fiquei incomodado pelo horário, mas parecia estar me esperando. Não tive tempo de entrar, 'Vamos' e fomos. No elevador, perguntou onde estava morando, 'não tão bem quanto você' respondi, riu de mim, não para mim. Quis abrir uma garrafa de vinho ao chegarmos, ofereci água, riu de novo. Ligou o som alto e começou a telefonar, logo a casa estava cheia.
  Dançou com todos, bebeu de tudo, de todos, se debatia no sofá com outras três pessoas, fingi não ter ciúmes. Senti seus olhos me atravessando os óculos, mesmo míope, via-me refletido em suas pupilas, me pegou pelas mãos e nos fechou no quarto. Cheirou uma carreira inteira de cocaína, enquanto se mordia, me mordia também, tomei suas mãos que me agrediam, a violência ali, era minha.
   Meus olhos remontavam cada quadro das cenas que eu lia, e se montavam ao meu
redor, eu não estava mais em minha sala, eu estava naquele quarto, ou aquele lugar se montava na minha sala. Eu na cadeira embriagada, e pessoas passando, e vomitando, e dançando, se masturbando, tropeçando em mim. Ouvia a música com meu peito, um cheiro viciante, um ar grosso de respiração, de álcool, de suor, de drogas e sexo me dopavam. Um par de óculos caminhou em minha direção, encontrou minhas mãos, me jogou no chão e então uma página em branco.
   Levei uma mão trêmula até meu rosto, em uma quase convulsão me levantei. O livro estava em branco, caminhei meus dedos nas páginas seguintes, a história se seguia com as palavras tão dançantes, meus olhos só reconheciam letras, pontuações, espaços... Nenhuma palavra veio a mim, e eu não fui à elas, me dirigi a cozinha, procurando calma em um copo d'água, o que encontrei foi raiva de um vidro na minha mão. Eu era o vidro agora.
   "Não, não preciso de um curativo" respondi. Cedi, arrancou um pedaço de tecido de sua manga e amarrou na minha mão. Agradeci. Olhei para baixo, o sangue não estancava, mas sangrava com menor intensidade pelo menos.... Depois de um tempo, me cansei de olhar para o pedaço de pano ensanguentado, peguei o livro e com um suspiro o abri.
  Depois de um tempo que eu havia chegado, minha boca anunciava a necessidade de água, percebendo isso, foi até a cozinha, atender meu pedido. Da cozinha, ouvi um barulho e prontamente me dirigi até lá, "o que aconteceu?" nem precisou responder, o sangue escorrendo falou por si só. Um frio me subiu o estômago, ofereci ajuda já rasgando minha roupa para estancar o sangue, eu via a raiva em seus olhos. Me afastei, eu queria conversar sobre o que aconteceu, o que na hora parecia um assunto imposível de se tocar, insisti mesmo assim. Levantou o rosto e me xingou com os olhos, eu que abaixei o rosto dessa vez. Disse que o copo quebrou em sua mão e só, rebati que não era esse assunto que eu queria tratar, "você sabe o que estou falando" "eu sei, só não quero conversar" me testava a paciência, sua eterna teimosia com tudo, principalmente com a vida, insistia em não viver.
   " Você não quer falar sobre a noite em minha casa?" me aproximei, e enquanto abria seu peito, arrancava-lhe a sujeira das entranhas 'você não pode fugir de mim, você não pode fugir de mim' posicionava meus pés sobre os seus e empurrava minha boca na sua. Rasquei-lhe a roupa e a alma, tentou fugir. Tentei fugir, o empurrei, cai da janela do sétimo andar.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

701

Ainda sou criança,
não sei brincar,
eu só sei mentir,
eu não sei rezar.
eu só sei fingir.
Se eu fosse um pássaro,
viveria engaiolado,
se eu fosse um gato,
seria adestrado,
se fosse máquina,
seria gente,
se fosse gente,
eu fingiria.
Sou o paciente 701.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Intinerário

Respeite os meus pés inchados,
 os calos da mão tem mais idade que sua carteira assinada
Ande, e me dê lugar para sentar
ao menos espaço pra passar,

Não me apertes, já me basta o salário...
O mínimo não é suficiente nem pro mínimo
Deixe desse orgulho e olhe para o lado, camarada
Ande, vá, e me dê um lugar, por muito tempo eu não vou ficar
juro
nem aqui, nem em qualquer outro lugar
Deus gosta tanto de mim, que há de me levar mais cedo,
Gosta tanto de mim,
que até sorte tive de nascer!

Deus gosta tanto de mim,
 me deu esses sulcos de terra,
essas marcas de pedra nas pontas dos dedos,
esses ossos de engrenagem velha,
e um coração muito grande para onde habita.

Respeite minh'alma inchada, camarada, e me dê uns segundos para descansar.

domingo, 7 de outubro de 2012

Colheita

Sinto falta da ansiosidade oceânica
Hoje, a calmaria me atormenta.
Nesses tempos arenosos
tudo é sólido e passa a frente de meus olhos.
Escolhi não ver,
não sentir,
nao ouvir
A dor pinga em gota d'água no alumínio,
enferrujando a voz e a força do pensamento.
Não me incomodam os hábitos,
me cansam a um estado de letargia,
deixe estar, que assim está e continua.
 O retardo do tempo de amadurecer,
a fruta apodrece com a casca verde,
e o olfato denúncia o que a visão ignora.
- eu sinto sem saber.

E deixe que estar, que assim está
tudo é sólido, desgasta,
nada flui.

domingo, 16 de setembro de 2012

Setembro

Amanheço cada ve mais tarde
O que fui ontem não reconhece o hoje
Amanhã me desconstruo,
e serei novamente o intervalo entre a pretensão do real
a fantasia de carnaval.

Em minha figura poética, sou imagem
A hipérbole, o hipérbato, a metáfora, anáfora,
o sarcasmo nanquim de Deus.
Sou essencialmente o tom, nunca a cor.

Não me conheço,
não sei me apresenta como algo além do visível.
-Eu sei que vejo, mas não vejo que sei.

A pausa,
entre o primeiro e o segundo ato.
Perdida a partitura,
a música continua sem o solista.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Identidade Falsa

Engoli um copo de mágoa com a sede de um gole de vida.
Sorri falsamente a saciedade,
enquanto mergulhava profundissimamente
meus olhos fechados num beijo,
eu me apaixonei com os olhos abertos.

Na desilusão em que vivi do outro lado do espelho,
desaprendi a enxergar meus maiores defeitos verdadeiros como são;
essa sensibilidade inerente,
de sentir o sabor do céu, ouvir  o som das cores, e tatear a tinta da poesia
sou criança pobre,
com pés descalços no parque
saboreando um pedaço açucarado de nuvem rosa.

E quando abro os olhos e me deparo com sua pele alva,
teus olhos caramelados, esse abraço de afago,
e um sorriso inseguro e sincero,
desisto da gramática,
me desprendo da didática,
e me entrego como sou.

E toda mágoa do espelho é então fotografia,
e o que sou hoje, não seria se não fosse.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Previsão do tempo

Às vezes sinto sede do silêncio que mora em teu peito,
deitar e respirar teu ar,
às vezes sinto falta do que tenho todo dia,
e quero mais
não só de dia.

Às vezes calo um beijo com palavras,
os pensamentos que não digo,
meus olhos traduzem
um sorriso meio sem jeito,
avermelhado
ao te ouvir pedir,
ao te ouvir falar:
-Vem.

Os teus olhos certeiros,
teu sorriso sem medo,
teu jeito inseguro,
nossa solidão a dois,
construo imagens tuas
como se fosse minha
inteira,
e desenho.

E desenho em tuas curvas os arrepios que quero conquistar,
desenho nos lábios, os suspiros a arrancar,
empresto dos olhos as cores, que mudam
absorvem,
aderem a mim, sentido, vontade,
tranquilidade de pipa no céu noturno.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Eu vou morrer, é verdade.

Tudo o que vejo em mim é uma versão atrasada daquilo que nunca quis ser,
Um protótipo urbano de um ser em construção.
O típico indeciso
-Não sei o que quero.

Me doem os neurônios, a incapacidade de mudança,
a prisão da falsa liberdade,
a busca da felicidade,
- que não me percence.
 os sonhos comprados na internet,
e não de padaria,
a ilusão messiânica de salvar o mundo todo num só ato.

Eu vou morrer, é verdade.
E por que prender um pássaro que sabe seu prazo de validade?
Nada importa,
nada vale,
nada conta,
se sou só um
protótipo,
descartável,
inválido,
resíduo de fábrica.

domingo, 29 de julho de 2012

Nome Próprio

Estiquei meus braços calmos como linha de pipa no céu noturno
Pipa à noite é morta,
qual graça há, sem as cores, o balanço?
Eu não sei, só gosto de sentir o vento,
fechar meus olhos,
respirando fundo a imagem que quero montar.

Te alcancei, na leveza de sonho
segurei, com todo sangue que pude pulsar
este coração é teu
e olhar teus olhos castanhos, a calma que quero conquistar
o toque que me eleva e me retorna
a pele,
 o gosto,
o cheiro,
o sorriso.
- Vem e fica.

De linha de pipa à arranha-céu,
esticado meu abraço, firme e frágil,
felicidade é pipa no céu infantil,
é o medo de dar certo,
o sossego da certeza,
o encanto de um sonho.

Felicidade tem teu nome próprio.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Sentido

Pedi pra passarem o açúcar, me deram o adoçante.
Pedi um punhado de jabuticaba, mandaram eu ir no pé buscar.
Pedi um copo de água gelada, me veio o copo com a água ali do balde.
Pedi um sorriso,
Pedi um beijo,
Recebi um Adeus.
Cansei de pedir.
Pedir pra vida ser mais, pedir por um herói, pedir pra tudo se ajeitar, pedir por sossego.
Na verdade, a simples verdade, eu não quero nada disso.
Eu só quero, o que isso tudo representa:
                        O amanhecer, o sabor, a vontade saciada, a saudade, e você                            meu bem, que só me faz bem.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Boa intenção

Páginas em branco não organizam as palavras sozinhas
Entre um gole e outro,
respiro
mas que porra é essa que está acontecendo comigo?
Eu sei, não quero admitir

Fui atrás, li, procurei e ouvi
o que eu não quis saber.
"Não é pra mim, não sou eu"
Sou o eterno segundo lugar,
a medalha por participação
"Eu me esforcei, mereço estar aqui"
Se esforçar não é o bastante,
de boas intenções basta o inferno.

Se foda.
Tua vida não é a minha.
Se foda.
Nunca precisei,
eu nunca precisarei
provar nada pra mim,
então porque me esforço tanto para dar explicações, para saber motivos, para ter razões?

Se foda, Nara, se foda!
Mande tudo a merda!
E estou, camarada, estou.
Que se foda.
Tu e todos eles,
todo resto,
todo teu passado que tentas inutilmente remontar em mim,
enfie na lama,
mande pro inferno!
Tua vida não é minha.

domingo, 10 de junho de 2012

Promoção

Seu cantar desafinado me encanta,
abra os olhos, menina, tem medo de lágrimas?
se quer se blindar contra as emoções,
tranque-se,
esconda-se,
feche as janelas, não deixe o sol, nem a chuva entrar.

se quer se blindar,
eu não tenho nada a oferecer,
eu tenho o contrário.


Escancaro meu ser,
nua e crua como sou,
e meu tórax aberto pode ser teu abrigo,
na companhia do meu coração,
terá que conviver com toda sinceridade que ele possa oferecer.

Abra os olhos, menina,
e veja que o caminho que eu sigo é torto
é pedregoso,
acidentado.

O que me tranquiliza é saber
que nada vai dar certo,
pois assim, quando dá,
é a alegria que bate a porta,
como ganhar uma promoção,
e a felicidade em súbito te atinge.
Esses momentos são melhores do que toda a certeza do mundo.

Abra os olhos, menina,
e se permita conhecer o mundo,
se permita conhecer-se.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Brado ao Ódio

Um brinde!
Brinde ao corpo sem alma,
Ao coração sem par,
Ao futuro sem casa,
Ao frio na pele,
e não nos ossos.

À tua indecisão,
ao descaso,
à comodidade,
ao teu sim que é não.

Um brado!
Aos fracos apaixonados
e apaixonantes,
iludidos,
aos que costuram rugas e sorrisos,
com as veias frágeis do coração,
aos que emendam numa só expressão,
a preocupação e felicidade
e reclamam,
-reclamam os ingênuos!-
quando os lábios caem, estourando os fios secos
sentindo o rompimento escorrer,
reclamam!
tecem as lágrimas!
ingênuos.

Um brinde.
Aos que amam.
Sem o medo da correspondência.

domingo, 20 de maio de 2012

Céu montanhoso

O novelo cai, desenrolando toda memória
Como pode, um fiozinho de saudade criar tanta comoção?
Esses momentos de solidão trancafiam os desejos
escapando o medo de viver.
(errar)
 
E quanto mais foge o novelo,
maior fica,
os rastros de fio interminável,
os nós do algodão neurológico,
as sinapses inacabadas.
Onde foi que deixei faltar?

A ressaca é moral dessa vez.
Observo calmamente minh'alma mal polida.
Meus olhos são falsos.
Eu não sou quem digo ser,
eu não sou quem quero ser.
Eu já quis ser melhor,
só pelo prazer de poder provar
que posso ser melhor
(eu sou melhor que você)
fracassei.

Eu sou muito menos do que o sonho exige de mim.


sábado, 12 de maio de 2012


Do lado de dentro

O ano inteiro em um casúlo e eu não pretendo sair tão cedo. É que não estou pronta para o mundo, como um mundo inteiro. Diferente do meu mundo, dentro do casúlo, desta casca endurecida que mal eu caibo mais. Mas e daí que está apertado demais, doendo até os meus ossos ? É só… curvar-me um pouco mais, ajeitar-me um pouco mais, expremer, sem nunca exprimir, o peito um pouco mais… A dor aqui não é tanta quando o medo de lá.

Fisiologia

Despi meu corpo, e em carne e osso me expus
Assim como sou, crua e nua.
A carne ainda quente, pulsante e dolorida.
Dói, dói, dói, enquanto pulsa pulsa pulsa.
O pulso ainda pulsa, mas só pulsa, e eu o sinto no chão que eu piso.
Gelado o piso.
bege cru assim como a morte que se mostra no açouque
a morte limpa, bonita, mal-cheirosa, como ela é e com o gosto que tem
e eu estava lá, crua e nua por fora
de dentro para fora, a morte
forte,
que esfaqueia meu ser,
meus olhos,
meu eu.

Pedras Sabão.

Não perdoa mais a dor que aperta o peito e vem da alma,
com a calma de quem não quer ver acabar
o presente que foi o passado
De mim para si
De nós para o fim
Difícil que é esquecer
antes fosse cometer
O vermelho que mancha esse romance
Em preto e branco retratado em três por quatro
Com formato de carteira e cheiro de saudade
E escorrem os olhos, as promessas
pelas beiradas do orgulho
que recolhe os cacos de vidro
e confeites
do carnaval fora de hora
Enqanto bêbados equilibristas
seguem no meio-fio,
escorrendo a maquiagem de ressaca,
na alegria de um velório, como num bloco.
Enfim fecham-se as portas do cortiço,
no começo da manhã de domingo.

Meia vida

É stress.
A resposta para todo e qualquer mal que me assombra.
Dor no pescoço, é stress.
Meu coração palpitando, é stress.
A vista embaçada, é stress.
O mal do século, a melhor desculpa inventada.
…e daí que descem os remédios,
os analgésicos,
os anestésicos,
licítos
ilícitos…
é o stress.

Sete

Eu procuro sinais e não encontro, me diz o que faço de errado ?
É o jeito que eu peço, que eu penso, que eu peco, que eu falo, que eu ajo, que eu existo ?
Eu procuro sinais onde não se encontram. Na lama, no caos, na glória, é tudo a mesma bosta, e por que não estão? São.
Rasgo meu casto com a alma, e bebo de mim toda calma, nem raiva absorvo, observo ao invés de sentir.
Eu posso comer essa terra e dizer que é sagrada, balançar meu corpo com os olhos fechados, cantar olhando pro céu, gritar pela cura, cair no chão e enrolar a língua. Fazer tudo isso em teu nome, e mesmo assim não te sinto.
Quando te chamo, não ouço resposta,
Quando eu peço, não recebo,
Quando eu olho, não vejo,
Quando eu faço, eu não sinto.
Me diz por que não acho o teu sinal em mim ?

De cá pra cá

Por mais que eu tenha vivido, os dias são todos iguais. Em 17 primaveras, nunca a vi. E nessa época agora, que vejo nas vitrines, cabides, as máscaras enfeitadas, desejando que todas outras e quaisquer máscaras fossem tão fáceis de se adquirir e de se retirar, passei 17 carnavais com a fantasia nua de ser.
Meus dias começam pela metade, e terminam no início do próximo, na espera de… de que eu não sei, é só a espera ao meu lado no sofá, a tv ligada pra nada, só pra distrair, as luzes e o som do comercial do supermercado, anunciando que nesta quarta, o peixe é mais barato. Eu penso no mar.
É tudo tão bonito fora de casa, mas eu me contento nessa viagem de alma, meu corpo parado, enquanto meus olhos acompanham e desenham os lugares, na verdade o lugar, eu vejo as ladeiras, os tijolos de barro, a tintura descascada e as moças apoiadas no peitoral da janela enquanto conversam, os ladrilhos escorregadios fáceis de se tropeçar, as portas de madeira, e os senhores numa mesa de bar.
As coisas que só os olhos de dentro enxergam, eu fecho os meus e durmo, é menos um dia de 17.

sábado, 5 de maio de 2012

17

Cinco de Abril, 2011
Sobra no meu peito
o teu sorriso que me invade,
nesses todos carnavais
em que estive mascarado.

Paguei os meus pecados
sob a fantasia de frade.
Orei, meus olhos fechados,
chorei, de alma embriagada.

Colhi as flores desse asfalto
Nesses todos carnavais,
nesses tantos carnavais.

Fecharam-se os punhos
no meu rosto inválido
Casaram-se os castos
no altar pagão dos atos,
e a cena se repete:

Vinte quadros mudos,
a música celebrando
os brasileiros surdos,
às fantasias do Planalto.

Braile

Com o peito aberto,
escancarado,
todo dado
o vadio...
A natureza é uma linguagem
de difícil leitura,
fácil descrição,
enganosa interpretação
E eu...
Que não sei nem ler os teus olhos,
saberei ter
o teu coração sem dono?
Vira-lata que sou...

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Chagas

Meta o dedo na ferida
e diga que não é verdade,
diga que não é úlcera infecciosa,
diga que não é carne trêmula.
Meta o dedo na ferida,
e sinta o fel escorrer,
sinta o sangue pulsar,
o vermelho ferver.

Meta o dedo na ferida,
e negue que é tua.
Se é tão melhor quanto finge ser,
se é tão maturo,
honesto,
seguro,
superior.

Se é,
porque mente?
Monta teu caráter,
apontando o dedo na cara de Judas
e beijando a outra face de Jesus.

Vive uma vida negando a imortalidade de seus atos,
se é tudo efêmero,
para que padecer de preocupações?

Minta, tua vida toda,
equilibrada entre o errado e o incerto,
mas não venha contar,
não venha me cobrar
as responsabilidades,
os atos,
os fatos,
que você não teve.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Nem

Dei-me a chance de ser feliz,
e não valeu a pena,
a culpa é minha
mas não peço perdão.

O quê?
Sou errada pois a definição que tenho de felicidade é diferente da tua?
Sou errada pois minha concepção de amor não pode ser dividido em dois?
O quê?

Libertei todo meu sexo escarrado
emaranhado de sentimentalismos e hormônios
e alegrias efusivas e efêmeras de um drama juvenil.
Me fodi.

Teci toda racionalidade que fui capaz,
traduzindo em que porra fosse a emoção que pude sentir.
Me tornando eternamente o silêncio, o espaço em branco
entre o que pensei,
e o que quis dizer.

O que eu pensei muito...
não senti.
O que senti muito....
não disse.
Hoje, nem...
Me fodi.

sexta-feira, 16 de março de 2012

2n

Nunca sei como devo sentir,
Bem verdade, eu sinto.
eu não sei como agir.

Tornamos frágeis toda vez que o pulmão impulsiona o suspiro necessário para,
com apenas algumas palavras,
alguns poucos segundos,
que seu corpo estremece todo,
e se arrepia toda espinha,
suas pupilas dilatam,
a fragilidade da primeira infância,
e um zigoto felicidade se concretize pelo som.

Um projeto, uma fecundação de alegria,
se explode, aparece num gozo de voz,
numa satisfação mental,
e logo em seguida:
o medo.
- e se engravidar?
e se pegar?
e se abortar esse quase feto?

Não é nem humano, apesar de sair de um.
Muda uma vida,
É uma vida.

terça-feira, 6 de março de 2012

Ponto de vista

Meus olhos abertos sonham demais
confudem a curva dos meus lençóis, com a do algodão de roupas alheias
esse seio não é meu travesseiro
mas bem ficaria deitado ao meu lado
junto ao meu
e não me importaria onde começa a extensão de um corpo
e onde termina o de outro.

Acontece que sou frágil
levanto vôo e caio fácil demais
os teus sinais... ah teus sinais
cansei de recolher os pontos de interrogações que eles deixaram pelo caminho
e rio então,
o que sobra pela falta de resposta,
ou pela falta de pergunta
"O que você quer dizer?"

Me agrada te ver sorrir
e envermelhar tuas bochechas
e coça a lingua de te elogiar
eu só rio
sorrio
disfarço
e cresce outra interrogação
"O que você quer?"

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Infante

Me desprendendo dessas cordas, o espetáculo deixou de ser meu
Sou coadjuvante da minha própria história,
Se sou assim, quem sou então?!

Sou boneco, mas não fantoche,
os dedos que me guiam não são invisíveis
A minha própria mão, argamassa meu destino
meu próprio indicador, aponta a direção
e se sujam com as consequências,
todo argiloso e quebradiço,
como barro deve ser.

Sou boneco velho, remendado,
sujo de lembranças,
cicatrizado de passado,
maltratado pelo presente
e desconhecido do futuro.

Sou criança em uma embalagem que não me cabe,
me aperta a posição,
me sufoca o plástico,
me cega o papelão.

Sou um coração pequeninamente imenso,
raivosamente carinhoso,
triste esperançoso,
equilibradamente embriagado de vida.

Sou um reflexo em construção,
o espelho não para de crescer.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Bosta Nova

Tarde de domingo, eu vivo uma vida suave, tranquila, a paz de Copacabana que toda Bossa Nova quer ter. Menos eu. Não escolhi essa vida, entrei no caminho por acidente e lentamente ando por ele.... e visito cada mar, cada paisagem, sentindo-me uma panela de pressão.
Faz calor demasiado, por dentro a sensação é de explosão iminente. Preferiria que explodisse. Que trouxesse algum movimento a vida, nem que fosse das chamas.

É chato. É tristeza não transparente, parece tudo calmaria. Perdi amores eternos, amizades sinceras, sorrisos espontâneos, dores surpresas. A corda bamba agora é asfalto, o vento é brisa, o som é assovio.
Me incomoda tudo, tudo que não é intenso. Tem uma agulha que me fura pequeninamente o pulmão, que me rasgue de uma vez! Que me sangre, misture o ar e sangue, e pulse, ferva, exploda, e eu grite de dores! De Amores, temores!
Que tudo aconteça como um turbilhão, que venha e me atropele tudo com intensa violência, e eu perca o ar, a noção, os sentidos por frações de segundos, e minha pele se arrepie do mindinho do pé até o mais recente fio de cabelo, que da minha boca não haja tempo de sair sequer uma palavra, e quando eu piscar, e abrir novamente os olhos, o mundo seja novo, seja outro, seja intenso, eterno, desconhecido....
Mas não... o barquinho vai.... a tardinha cai...

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Três de mim

Um fragmento aqui, outro lá
um olhar talvez,
um gesto,
um sorriso
todos repartidos
partes do rosto
o olho, castanho,
os lábios, grandes,
o movimento da franja atrapalhando a vista.
Seriedade e sobriedade ao cruzar os braços.

Um fragmento aqui, outro lá
o vento arrepiando o braço,
o seio, a curva do quadril,
um toque nunca tocado,
a voz gritada
ensurdecente, inaudível
o suor gélido
me afasta
e me acorda.

Acabou.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Respire fundo

Tenho em mim um sentimento cruel,
uma saudade que arranha e briga com o ego.
uma imensidão de amor,
mergulhado em pura escuridão
todo encolhido,
batido,
apanhado,
roxo num canto da esquina na memória.
Injustiçado e cheio de esperança,
o ego grita e pede:
"desiste e segue"

Seguindo estou,
mas desistir do quê?
se nem sequer, que eu saiba,
algo tentei...

O coração está longe,
distante dessa briga,
essa morada já aguentou diversas tempestades
e ser novamente dividido em dois,
ao se recompor, sucumbirá.
E apagadamente observa....
o duelo da razão sentimental,
palpitante para palpitar:
"não faça isso..."

E quem disse que farei?
Será que devo?
Devo tentar? Desistir ?
Ficar.

Calma, a sua hora vai chegar.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Esquerda

Ah!
me deixem no sofá!
a vida me dá tanta preguiça....

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Eu não acredito em deus.

  Não, não sou atéia, nem agnóstica. Não, também não sou de outra religião diferente da cristã ocidental. Não pertenço a seitas, não acredito em energias, em cosmos, em seres extraterrestres superiores que comandam a Terra.
  Eu acredito no que vejo, sinto, ouço, toco, cheiro e saboreio. Eu acredito nas coisas como são. Se as folhas das árvores caem, é porque o vento a balançou, ou porque somente é hora de as folhas cairem. O tempo passa e não o vemos passando, mas as cicatrizes que ele deixa são perceptíveis ao espelho: as espinhas, os pêlos, as rugas, os fios brancos, o pó.
  Se queres me convencer de algo então prove. Se um sentimento, demonstre, uma promessa, cumpra-a, uma ação, execute-a, uma mentira, conte a verdade. Uns chamam essa prova de ciência, eu a chamo de verdade. Pois a verdade não deve ser temida, ela está sempre ao nosso favor.
  Se então deus é isso, o que faz as folhas das árvores cairem, o vento soprar na hora certo, o sol mais perto no verão, e a chuva para aliviar a terra, então eu acredito em deus. Se não for isso, eu não acredito em nada.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

W.

Eu tenho inveja de você Juan, pois na sua fantasia real aconteceram coisas que somente em sonho eu pude viver. Acordei chorando o seu nome, Pedro.
Foi um sonho desses, que a gente não sabe se está morto ou vivo, se estamos aqui ou ali, se é céu, inferno ou a Terra mesmo.... Só sei que a casa não era minha, não era de ninguém. E o corpo também.

Entrei pelo corredor lateral e adentrei pela porta dos fundos, na cozinha encontrei meu padrinho, alguns primos e crianças correndo como sempre, uma falação incapaz de se reconhecer qualquer voz que fosse, a mesa estava posta para o café da manhã, e ouvia-se muito o barulho de água corrente, da pia e chuveiros. Quis ver minha mãe e fui correndo para o quarto, a primeira porta que olhei, não a encontrei, o quarto em frente estava vazio, e enfim, no quarto ao lado, ouvindo o barulho do chuveiro, vi um colchão de casal no chão, um lençol branco estendido, e sob ele um vestido, uma carteira, batom, e mais alguns objetos que reconheci ser de mamãe. "Mãe?" e ouvi resposta, aliviei. No início de alguma conversa que nem sei qual era o assunto, pois tudo que ouvia eram sílabas, palavras, nada lógico na minha cabeça. O que me chamava atenção, foi o barulho de um vento, e olhar para trás, no quarto em frente, a porta estava trancada, era o quarto do meu avô, e por respeito, estava fechado. Olhei para trás e vi o armário do corredor com as portas escancaradas e as roupas antigas, com formato de seu corpo, movimentando, até o seu chapéu dançando, de um lado para outro rapidamente, movimentos que não eram dele. E sua voz, sua voz ventando.

"É impressão minha, ou estou ouvindo a voz do vovô?" - "Não, Nara, não é impressão, ele está aqui" responde meu primo enquanto guia meu olhar para a cabeceira da mesa, e eu o encontro sentado, o semblante triste e pálido, estava com uma camisa azul xadrez, brilhante, nova, e uma bermuda bege, com muitos bolsos, aquele calor quase desértico da terra roxa do oeste de são paulo é quase impossível sustentar qualquer roupa que fosse. Sua bengala estava apoiada na mesa, do outro lado, estava com o cotovelo direito apoiado na mesa, e a mão segurando a cabeça, preocupado, pensante.
"Eu tô aqui, fia" estendendo a mão esquerda para me alcançar, enquanto meu peito rasgava rios de lágrima, desespero e alegria, tristeza e transtorno, dei-lhe minha mão, e caminhando na sua direção, sua imagem cada vez ficava mais fraca, até chegar bem perto e ele totalmente desaparecer, mesmo assim, pude sentir um beijo no dorso da minha mão. Me afastei e o vi, ali, inteiro, mas não completo.

Sentamo-nos, estranhamente calmos na mesa, e enquanto nos serviamos de pães, geléias e leite, a conversa : "Vai telefonar para o Leci, vovô?" "Ih, vou nada" franzindo a testa e balançando o dedo negativamente" "Aquele já está grandinho". "Como está tudo, vovô?" pergunto "Ah fiica, tá muito difícil para mim, tá muito difícil onde estou. Agora que sabem que sou muito religioso do armário, sempre vão lá meter a tranca para me chamar, eu não consigo descansar"
Seus olhos para baixo, em nenhum momento diretos, semblante cansado, pálido, dolorido de dores de quem viveu muito.
Vai vô, vai descansar.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Calma

Sinto falta dos seus ouvidos, dos seus olhos, da sua voz...
Seu corpo é chama,
que eu consigo controlar
Seu toque arrepia,
um frio, que eu consigo suportar
Sua boca me chama,
sem falar
É meu nome que fantasio,
em seus lábios calados.
Nada, que eu não consiga apagar...

Sinto falta dos seus ouvidos,
atentos a me escutar,
Dos seus olhos,
hábeis em me descobrir,
Da sua voz,
prontificada a me aconselhar.

É saudade,
eu não consigo controlar.
É o costume,
me rasga a pele e o peito,
a confiança que me deixei levar

Agora, me tormenta ausência
Me contenta a falta,
A lembrança,
que não me permito apagar.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Suja

Me expandi além dos limites, e ultrapassei liberdades que não eram minhas.
Estive tanto tempo nessa bomba relógio, e o tempo não passava,
e quando resolveu passar, em frações de segundos, foram horas.

Me expandi, sem arrependimentos, com muitas fantasias.
E pouca consideração com consequências.
Fui feliz, em algumas horas alcóolicas.
Mas a realidade nos acha,
nos atinge,
nos revela num reflexo de espelho,
banheiro de bar.
Imagem suja,
fiel a quem sou.

Sou frágil, fragilizada, e ameaçada.
Me defendo, por medo,
e machuco, e ataco.

É tudo medo. Medo de tristeza
Medo da felicidade.
Medo de tudo dar certo
E agora?
E se der errado?
E agora?

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

19

Sobra no meu peito
o teu sorriso que me invade
Nesses todos carnavais em que estive mascarado
paguei os meus pecados
sob a fantasia de frade
Orei, meus olhos fechados,
Chorei, de alma embriagada
Colhi as flores desse asfalto,
com os dedos inchados.
Nesses tantos carnavais,
nesses todos carnavais...
Estive sozinho,
e sozinho estou no bloco,
pulo confete,
caio papel.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Feliz Ano Novo.

Ardi um fogo
de paixão à ódio
A sonoridade das chamas e voz
do gozo à dor.

Clamei perdão,
perguntei por que :
a felicidade ofende.

Uma auto-flagelação forçada,
Um padre ateu,
Um comunista conservador,
Um suicída vivo,
Um viciado, cujo vício é o amor.

Sem sentido, eu sim, senti.

Tudo tem nexo em cima do muro,
nada é certo ou errado
ninguém é bom ou mau quando feridos
são todos igualmente dignos de pena, dó, de esmola sentimental

-Que vão todos para o núcleo do inferno!
Que inferno? Me diz então deus, o que é isso que vivo, se não o inferno ?
-Eu não preciso de vossa pena, estendam vossas mãos ao diabo! Que ele sim, vos carregue! E aguentem vossos próprios fardos, que do meu sozinha estou farta!

Arda-me, deixe-me arder!
Cansei de brincar de gente grande
Cansei de crescer!
Nesse pique-esconde, me escondi e onde estou que não me encontro?

As paredes se aproximam, as portas diminuem, a mente encolhe e o coração endurece.
Sou adulto sem querer...
Cansei de brincar...
Cansei de crescer.