domingo, 22 de janeiro de 2012

Esquerda

Ah!
me deixem no sofá!
a vida me dá tanta preguiça....

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Eu não acredito em deus.

  Não, não sou atéia, nem agnóstica. Não, também não sou de outra religião diferente da cristã ocidental. Não pertenço a seitas, não acredito em energias, em cosmos, em seres extraterrestres superiores que comandam a Terra.
  Eu acredito no que vejo, sinto, ouço, toco, cheiro e saboreio. Eu acredito nas coisas como são. Se as folhas das árvores caem, é porque o vento a balançou, ou porque somente é hora de as folhas cairem. O tempo passa e não o vemos passando, mas as cicatrizes que ele deixa são perceptíveis ao espelho: as espinhas, os pêlos, as rugas, os fios brancos, o pó.
  Se queres me convencer de algo então prove. Se um sentimento, demonstre, uma promessa, cumpra-a, uma ação, execute-a, uma mentira, conte a verdade. Uns chamam essa prova de ciência, eu a chamo de verdade. Pois a verdade não deve ser temida, ela está sempre ao nosso favor.
  Se então deus é isso, o que faz as folhas das árvores cairem, o vento soprar na hora certo, o sol mais perto no verão, e a chuva para aliviar a terra, então eu acredito em deus. Se não for isso, eu não acredito em nada.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

W.

Eu tenho inveja de você Juan, pois na sua fantasia real aconteceram coisas que somente em sonho eu pude viver. Acordei chorando o seu nome, Pedro.
Foi um sonho desses, que a gente não sabe se está morto ou vivo, se estamos aqui ou ali, se é céu, inferno ou a Terra mesmo.... Só sei que a casa não era minha, não era de ninguém. E o corpo também.

Entrei pelo corredor lateral e adentrei pela porta dos fundos, na cozinha encontrei meu padrinho, alguns primos e crianças correndo como sempre, uma falação incapaz de se reconhecer qualquer voz que fosse, a mesa estava posta para o café da manhã, e ouvia-se muito o barulho de água corrente, da pia e chuveiros. Quis ver minha mãe e fui correndo para o quarto, a primeira porta que olhei, não a encontrei, o quarto em frente estava vazio, e enfim, no quarto ao lado, ouvindo o barulho do chuveiro, vi um colchão de casal no chão, um lençol branco estendido, e sob ele um vestido, uma carteira, batom, e mais alguns objetos que reconheci ser de mamãe. "Mãe?" e ouvi resposta, aliviei. No início de alguma conversa que nem sei qual era o assunto, pois tudo que ouvia eram sílabas, palavras, nada lógico na minha cabeça. O que me chamava atenção, foi o barulho de um vento, e olhar para trás, no quarto em frente, a porta estava trancada, era o quarto do meu avô, e por respeito, estava fechado. Olhei para trás e vi o armário do corredor com as portas escancaradas e as roupas antigas, com formato de seu corpo, movimentando, até o seu chapéu dançando, de um lado para outro rapidamente, movimentos que não eram dele. E sua voz, sua voz ventando.

"É impressão minha, ou estou ouvindo a voz do vovô?" - "Não, Nara, não é impressão, ele está aqui" responde meu primo enquanto guia meu olhar para a cabeceira da mesa, e eu o encontro sentado, o semblante triste e pálido, estava com uma camisa azul xadrez, brilhante, nova, e uma bermuda bege, com muitos bolsos, aquele calor quase desértico da terra roxa do oeste de são paulo é quase impossível sustentar qualquer roupa que fosse. Sua bengala estava apoiada na mesa, do outro lado, estava com o cotovelo direito apoiado na mesa, e a mão segurando a cabeça, preocupado, pensante.
"Eu tô aqui, fia" estendendo a mão esquerda para me alcançar, enquanto meu peito rasgava rios de lágrima, desespero e alegria, tristeza e transtorno, dei-lhe minha mão, e caminhando na sua direção, sua imagem cada vez ficava mais fraca, até chegar bem perto e ele totalmente desaparecer, mesmo assim, pude sentir um beijo no dorso da minha mão. Me afastei e o vi, ali, inteiro, mas não completo.

Sentamo-nos, estranhamente calmos na mesa, e enquanto nos serviamos de pães, geléias e leite, a conversa : "Vai telefonar para o Leci, vovô?" "Ih, vou nada" franzindo a testa e balançando o dedo negativamente" "Aquele já está grandinho". "Como está tudo, vovô?" pergunto "Ah fiica, tá muito difícil para mim, tá muito difícil onde estou. Agora que sabem que sou muito religioso do armário, sempre vão lá meter a tranca para me chamar, eu não consigo descansar"
Seus olhos para baixo, em nenhum momento diretos, semblante cansado, pálido, dolorido de dores de quem viveu muito.
Vai vô, vai descansar.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Calma

Sinto falta dos seus ouvidos, dos seus olhos, da sua voz...
Seu corpo é chama,
que eu consigo controlar
Seu toque arrepia,
um frio, que eu consigo suportar
Sua boca me chama,
sem falar
É meu nome que fantasio,
em seus lábios calados.
Nada, que eu não consiga apagar...

Sinto falta dos seus ouvidos,
atentos a me escutar,
Dos seus olhos,
hábeis em me descobrir,
Da sua voz,
prontificada a me aconselhar.

É saudade,
eu não consigo controlar.
É o costume,
me rasga a pele e o peito,
a confiança que me deixei levar

Agora, me tormenta ausência
Me contenta a falta,
A lembrança,
que não me permito apagar.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Suja

Me expandi além dos limites, e ultrapassei liberdades que não eram minhas.
Estive tanto tempo nessa bomba relógio, e o tempo não passava,
e quando resolveu passar, em frações de segundos, foram horas.

Me expandi, sem arrependimentos, com muitas fantasias.
E pouca consideração com consequências.
Fui feliz, em algumas horas alcóolicas.
Mas a realidade nos acha,
nos atinge,
nos revela num reflexo de espelho,
banheiro de bar.
Imagem suja,
fiel a quem sou.

Sou frágil, fragilizada, e ameaçada.
Me defendo, por medo,
e machuco, e ataco.

É tudo medo. Medo de tristeza
Medo da felicidade.
Medo de tudo dar certo
E agora?
E se der errado?
E agora?

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

19

Sobra no meu peito
o teu sorriso que me invade
Nesses todos carnavais em que estive mascarado
paguei os meus pecados
sob a fantasia de frade
Orei, meus olhos fechados,
Chorei, de alma embriagada
Colhi as flores desse asfalto,
com os dedos inchados.
Nesses tantos carnavais,
nesses todos carnavais...
Estive sozinho,
e sozinho estou no bloco,
pulo confete,
caio papel.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Feliz Ano Novo.

Ardi um fogo
de paixão à ódio
A sonoridade das chamas e voz
do gozo à dor.

Clamei perdão,
perguntei por que :
a felicidade ofende.

Uma auto-flagelação forçada,
Um padre ateu,
Um comunista conservador,
Um suicída vivo,
Um viciado, cujo vício é o amor.

Sem sentido, eu sim, senti.

Tudo tem nexo em cima do muro,
nada é certo ou errado
ninguém é bom ou mau quando feridos
são todos igualmente dignos de pena, dó, de esmola sentimental

-Que vão todos para o núcleo do inferno!
Que inferno? Me diz então deus, o que é isso que vivo, se não o inferno ?
-Eu não preciso de vossa pena, estendam vossas mãos ao diabo! Que ele sim, vos carregue! E aguentem vossos próprios fardos, que do meu sozinha estou farta!

Arda-me, deixe-me arder!
Cansei de brincar de gente grande
Cansei de crescer!
Nesse pique-esconde, me escondi e onde estou que não me encontro?

As paredes se aproximam, as portas diminuem, a mente encolhe e o coração endurece.
Sou adulto sem querer...
Cansei de brincar...
Cansei de crescer.