segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

conformismo

Só falta o conformismo, essa tristeza tá demorando demais pra ir embora. O chá já acabou e estamos ficando sem biscoitos.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Para morrer feliz

  O relógio não gosta de mim, nunca gostou. Antigamente eu o ignorava, ele passava, eu fingia que nem via, depois de dar uma de difícil, eu corria atrás. Ultimamente tento conquistá-lo, mas o danado foge de mim, me ganha na marra. O tempo que tenho é o espaço entre o piscar e respirar, não vejo, não olho, não penso muita coisa que gostaria de pensar, de ver, de olhar. Ouço somente a enxurrada de ignorância opcional que existem em meus fones de ouvido. É melhor assim.
  Em algum momento desse dia, escolhi poupar meus ouvidos, e permitir o vento de me falar. No horário de verão, mesmo o rush parece mais romântico, é quase um êxtase poético ver folhas de ipê recém nascidas sendo esmagadas por volks, mercedes, fords, fiats, na impermeabilidade asfáltica. Nasci concretada, acostumei com cinza nos dias.
  Eu não sei adivinhar, nem palpitar o que vem acontecendo, pode ser a ameaça iminente do fim do mundo, ou a profecia pálida de mais um natal, os dias vem me surpreendendo, o relógio resolveu me dar uma brecha justo quando eu não precisava. Quem sou eu pra reclamar... Foi um dia diferente, começou com a alegria proletária da cesta rasa de natal, arrisquei uma satisfação, que logo acabou com a ameaça de chuva, pedi carona então.
   Enquanto esperava, o céu amarelo dizia adeus, tomando seu lugar um céu paulista, acinzentando até as árvores de primavera, eu olhava até o final da rua horizontal, por um carro reconhecível, quando, lá no fundo, lá pra perto de onde é o mercadinho (cujos preços não tem nada de - inho), avistei dois pontinhos brancos. Um mais claro. Aos poucos, os pontinhos iam aumentando, mas bem aos poucos mesmo, muito aos poucos. Até o relógio resolveu parar pra observar. O moço com a barriga grande, que eu nunca sei o nome, conversava comigo, e eu me deliciava atentamente ao seu sotaque, tentando adivinhar de onde poderia ser. Olhei novamente, e os pontinhos brancos cresceram mais um tiquinho. Outro tiquinho. Vi uma bengala, ouvi o arrastar de sapatinhos, ouvi o balançar de um terço. Passaram duas senhoras de braços dados, com passo bem lento, respeitando o ritmo da bengala designada a senhora com o terço.
  Pararam ao lado de onde eu estava, em frente a uma escadaria curta, que dava para a rua detrás. A primeira senhora, com a bengala, esperou, enquanto a segunda andou, andou, andou, andou, andou e parou a 2 metros da primeira. "Não tem problema, vamos subir, por aqui mesmo."; "Deve haver como dar a volta" "Vamos subir". Eu orelhava disfarçadamente, até elas sumirem da minha visão periférica, em direção a escadaria, e por um momento, esqueci do ocorrido.
  Passaram mais alguns bons tempos, o céu roxo quase cinza, o bar em frente recebendo mais pessoas, eu me sentia cachorro vira-lata em porta de padaria. Pessoas que chegam quando vou embora, já estavam indo embora. Passara muito tempo, encostei as costas na parede, e mexia o tronco de um lado para o outro, olhando cada vez em uma direção da rua, até que em um momento de eureka, olhei para a escadaria e vi as senhoras, afastadas, voltaram a ser pontos brancos, lá no topo, alto, longe, da escadaria, um esforço descomunal aquela bengala exercia, e faltavam três degraus, acompanhei, torcendo mentalmente, parecia fotografia que meus olhos tiravam, ou cena de filme de 20 qps.
   A iluminação feita por um único poste, e uns raios resquícios do sol, o som do vento e rodas no asfalto, e lá no final da escadaria dois senhores esperando as senhoras em sua escalada. Não contive um sorriso quando alcançaram o último degrau e foram recebidas com um abraço. Não sei o que diziam aqueles quatro quadros brancos, mas aposto que riam, e diziam sobre doenças, sobre uma nova receita, uma farmácia em promoção, o terço...
  Minha carona chegou e o relógio voltou a me apressar. Eu não quero envelhecer.

domingo, 2 de dezembro de 2012

São Paulo de Todos Os Santos

Meu café com leite e pão com manteiga paulistanos
não serão substituídos facilmente.
Gosto de conservar certos costumes
 - o jeito paulista de ser, e não estar.
Contudo, afasto o medo da mudança
típico de Morumbi.
Estou mais para Sé que Higienópolis.
Encaro a vida de frente,
com os dentes a mostra,
se for para quebrar a cara,
eu conserto o sorriso.
Apesar das enchentes de derrotas,
e o tráfego de discórdias,
não ando em círculos em marginais,
não ando em círculos em torno do meu umbigo,
não.
 Passeio...
entre as gentes na minhoca de metal,
entre os cheiros de pequi, de frango com polenta,
de chimarrão, de acarajé, de açaí, de esgoto a céu aberto.
entre sotaques...
 eu não tenho nenhum.
Sou fácilmente odiável quando sou 10 milhões e não apenas uma.
Sou nordestina,
 sou mineira,
 sou sulista,
 sou navegante da Bahia.
Sou de São Paulo e de Todos Os Santos.