segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Cidade

O céu de São Paulo me confunde,
Eu não sei o que é poulição ou o que é nuvem,
Eu não sei seu bom humor ou quando o rio vai encher
Qualquer quarto que eu entro tem cheiro de cigarro
Os vagões que eu percorro estão cheios de doentes
Os trilhos enferrujados e tem ratos por todos os lados.

As casas estão ficando vazias, mas tem gente dormindo na rua.
É discrepância, é descaso, é insegurança
Porque eu quero sair a qualquer horário e me encontrar
E não ver crianças fumando crack
Corações idosos tendo ataque
Eu não quero problema alheio.
Eu não quero problema coletivo.

E as pessoas fazem do fim de ano uma celebração,
como se algo novo e inovador,
Algo revolucionário fosse acontecer.
Ah, eu rio.
Mas o que vale é a festa, e eu adoro festa.
Eu quero alegria e olhar pro lado e ver lágrimas de felicidade,
A vida é triste demais para sermos tristes o tempo todo.
A vida não pode ser nada em excesso.

Eu vou sair de São Paulo, mas depois eu volto, prometo.
Eu quero enxergar as nuvens
E respirar o natural
Eu quero estar de bem com a minha cabeça
E que São Paulo que está em mim,
permita que essa minha indignação, indagação e imaginação
continuem, perpetuem.
Eu posso me afastar, mas a cidade continua lá.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Resumo de um filme

Ele usa o trânsito como desculpa pelo seu atraso,
Ele usa o trabalho como desculpa para sua dor de cabeça,
Ele diz que vai ali e já volta. Mas nunca diz onde é o "ali"
Disse que precisava resolver uns problemas e que não demoraria, disse também que foi encontrar seus amigos, e quando volta, toma um banho e vai dormir.
Mas seus olhos não enganam, seus olhos vermelhos e turvos, e ele está quase caindo. Liga o rádio alto e evita conversar.

Ele está mentindo. Todos sabem disso, ele ignora. Finge que não é com ele, que está tudo bem, que não é nada. Ele só está cansado. E gritam, ele finge que não ouve, e pedem, ele promete superficialmente que isso não vai mais acontecer, e a partir de amanhã será tudo diferente. E esse "amanhã" da promessa nunca chega. Seu hábito de anos, de fim de semana, virou rotineiro, virou um vício.

Mas ele não quer admitir que prefere o bar à casa, que prefere a cachaça a que os filhos, que prefere beber até cair, que prefere esquecer os remédios e lembrar o endereço do bar, que ele diz que é de vez em quando, mas esse de vez em quando é todo dia. Que todo dia ele mente, e todo dia está cansando, e todo dia ele está desistindo.

Eu não insisto, eu não peço, eu não aconselho. Eu só relato os fatos, e o fato dessa vez é que eu desisti de você.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Carta para o tempo

E nós que esperamos tanto tempo, que anseiamos tanto por uma caixa, uma árvore, e nós que no fim de ano sabemos de cor a teoria que deveria ter sido aplicada durante o ano. E prometemos veemente a nós mesmos, ocos, que o ano seguinte será diferente. Lógico que será. Diferentemente igual, da mesma forma como foram todos os outros anos passados.

Em um ano eu fui mutante. Fui tudo o que quis ser, e também o que não queria ser. E eu ainda quero mais. Eu não encerro aqui mais um capítulo, é só um ano que está acabando, mas minha vida continua sempre com mudanças, porque eu não quero estagnar. Eu olho pra trás e não me arrependo de nada. Pois foi minha experiência, parte da minha história, e agora ficou no passado.

Eu perdi oportunidades, mas ganhei novas chances, eu vi gente desistindo de mim, e vi alguns apostando em mim, eu me joguei no precipicio, cai, me esborrachei, quebrei a cara. Estou viva, e a dor que sinto é prova disso, meus hematomas e cicatrizes são lembranças de como eu me levantei. Também fui capaz de machucar quem menos merecia, eu não me arrependo, mas vendo agora, eu poderia ter agido de maneira melhor. Eu não quero que o tempo desfaça nada do que aprendi, nada do que eu fiz. Eu quero deixar gravado aqui o que for do meu passado.

Me conheci mais do que queria, e vi que ainda fraquejo perto de algumas pessoas, e tenho receio de falar o que quero, o que penso e o que sinto. Vi que minha coragem é pequena, e evitei muitas situações. Pequei diversar vezes, e se ainda frequentasse a igreja, teria que me confessar todo domingo. Percebi que me aproximo das pessoas erradas, e tenho certa atração a situações perigosas. Eu gosto do errado.

Vi que não me encaixo, mas não sou diferente das pessoas que convivo. Eu respiro, eu como, eu durmo, eu vivo. Percebi que existem mais pessoas que posso confiar do que eu esperava. Entrei em conflitos comigo mesma, briguei com meu melhor amigo, e me identifiquei com o espelho. Minha mãe diria que tudo o que eu passei são coisas de adolescente, mas ela não sabe metade das coisas pelas quais eu passei. E não vai ficar sabendo, não tão cedo. Porque o tempo acalma, o tempo cura. E é melhor que ela saiba mais de mim, quando tudo de mim, já for passado.

Não que eu queira ser apenas passado. Mas este passado faz parte de mim, e eu não posso ignorá-lo.
E que venham novos presentes e futuros, que daqui pra frente, eu continuarei sendo eu.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Eu nunca soube.

Eu não saberia te explicar como me tornei assim. Eu estava rodeada de rostos conhecidos e amigos, mas mesmo assim não era eu, eu não estava em mim. Eu queria um abraço, mas não estava a fim de responder ações e perguntas. Senti como se eu flutuasse a casa que chamo de lar, observando as pessoas, as vidas alheias, mas eu estava ali, eu fazia parte daquelas vidas. Mas aquelas pessoas não faziam parte da minha vida, alheia. No final, peguei um disco de uma das minhas bandas favoritas e fui ouvir, pensativa.


Eu confesso que estava ouvindo baladas românticas, trilha sonora de cena de filme adolescente dos anos 80, pois é. Você sabe, aquelas musicas que você considera brega, mas um trechinho você canta. Porque isso me tira do lugar onde estou. Eu queria estar em um lugar seguro, e eu sei onde encontrar um lugar seguro, eu só tenho vergonha para pedir pra entrar. E além de vergonha, eu tenho meu orgulho, e meu ego grande demais para admitir que aqueles braços me dariam o conforto agora.


Eu quis conversar contigo, como nos velhos tempos, quando era eu e você e a ilusão. Eu achando que seria mais um, e você achando que seria a vida inteira. Ou pelo menos um tempo, que duraria para sempre.
E onde te encontro agora, se não for em uma mesa de sinuca no bar? Qualquer lugar assim, sujo de espírito, a cerveja caída na mesa, a fumaça de cigarro lá fora com o vento. E eu em qualquer lugar, menos perto do cheiro de nicotina, pois o que sinto cheiro, não é público.


Confesso que gosto dessa vida, de amigos vagabundos, de risadas vazias, de carência, vontades e arrependimentos. Mas por um dia, que fosse qualquer dia, eu queria sentir a segurança que eu nunca senti. Algo que nem sei explicar...algo que eu ainda preciso entender. E me acostumar.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Almar

Segunda-Feira, sete de dezembro de dois mil e nove.

Minha alma é um vale seco inundado de contradições, se é que é possível, e eu determino que é, pois tudo acontece dentro de mim, e eu sinto as sensações e tenho necessidade de descrevê-las, por isso escrevo. Escrevo para não esquecê-las, e escrevo à lápis*, pois sei que a qualquer momento estou sujeita a mudar de opinião, ou posso querer reescrever uma frase mal escrita. Pois sou assim, transparente como um lago, misteriosa como um rio, e extensa como o mar. Mutável, como a água. O mar que te hipnotiza, que te suga, que te arrsta para as ondas. O mar que tu descobres, que te define, que te afoga.

Eu queria escrever historinhas. É eu queria. Com um belo enredo, personagens esféricos entrelaçados em uma contagiante narrativa. Na verdade, o que eu queria era te fazer parar para pensar, te fazer querer saber mais, te fazer discutir com o papel. Te fazer encontrar na rotina, elementos que te fizessem perceber que tua vida é uma historinha. Que até hoje, tu não sabes se acredita em Capitu ou em Bentinho. Eu acredito na mentira bem-contada. Eu acredito na dúvida. Eu não tenho talento para historinhas. Nem tempo.

Eu não queria só escrever. Eu queria saber ler as pessoas, e ser a historinha que elas precisam ler no momento. Eu queria ser as palavras, os parágrafos, as vírgulas e interrogações. Muitas vezes me sinto uma bula. Letras miúdas, pensamentos miúdos. Às vezes, raramente mesmo, me sinto dadaísta. Sem sentido algum. Eu queria me sentir como a bíblia, não me pergunte porque, não darei motivos somente religiosos. E religião é um assunto que prefiro evitar.
Eu gosto mesmo não é de sentir em mim, e sim no exterior, parece que o que vem de fora refraciona dentro d'alma, como se fosse um espelho d'água. Os olhos são espelhos.

Mas o que eu admiro mesmo são os sorrisos. Um sorriso pode definir o estado do olhar. Sorrisos são difíceis de se decifrar. As pessoas em sí, são difíceis de se compreender. Algumas são até impossíveis de se conviver. Por isso muitas pessoas preferem cachorros, ou gatos....Eu particularmente gosto mais de pássaros.

Os pássaros dominam o céu. Pode existir avião, ou qualquer outra invenção. Nada supera os com asas e habilidade por natureza. Eles dominam o céu, como eu queria dominar, e sim, logo eu que tenho medo de altura. Mas meu problema não é com o céu, nem o ar, nem a altura em sí. É com o chão, o chão nos limita. Eu não gosto do chão.
Eu gosto do ar e água, eu gosto do fogo, eu gosto do que contradiz o que sou. Porque o que eu fui, não vale mais...

Não gosto de pensar que ao cair, algo vai me interromper: o chão.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Engolindo sapos

Eu vou dizer muitas coisas que vão te enraivecer.

Eu vou dizer que você mudou, você está lá e eu aqui, que você não me liga, e que não liga mais pra nós, que você se importa mais com seus outros amigos. Eu vou dizer que o ABC não te satisfaz e que você quer o mundo inteiro, você quer São Paulo à Rio de Janeiro, você quer ir para o Sul e se aventurar no sol do nordeste. E que você não vai me convidar. Eu vou apostar que nem meu número do celular você se lembra mais, e reclamar que há tempos não recebo uma mensagem sua.

Eu vou dizer que você só vem atrás de mim quando lhe é conveniente. Quando você precisa de um favor, quando você quer mandar um recado, ou mandar em mim. Que você só vem falar comigo quando cansou de fingir, e sabe que eu não me importo e não te julgo pelos teus defeitos. Que você só fala de você, você só sabe de você, você só gosta de você. Que você não me pergunta mais como foi meu dia, e nem compartilha mais como foi o teu. Que você não me dá mais presentes de papel e nem flores de jardim, que você não se lembra mais de mim em momentos do seu dia.

Eu vou dizer que você vai às mesmas festas, aos mesmos lugares que eu, sem saber que eu fui convidada. E nem se oferece para ir comigo. Que você fica na pista e eu no sofá. E eu vou dizer que aprendi a conviver comigo mesma sozinha. Eu vou dizer que você se tornou indiferente, que você agora é amigo de todos e não é mais meu, eu vou dizer que onde você trabalha, deve ser um porre, e que eu não quero favores seus divulgando minha banda por lá. Eu vou dizer que a cidade que você mora é violenta, cheia de gente, transito para todo lado e seu salário é baixo. Eu vou dizer que não penso mais tanto assim em você, e que nenhuma música mais me faz lembrar de ti. E que a nossa banda favorita está em decadência, e que só você continua sendo fã. E que fazia tanto tempo que eu não te via, que na minha memória você era mais alto. E não é.

Mas que a verdade seja dita, e a verdade sempre aparece.
Eu sinto sua falta.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Elo com o passado

Tenho pena de você, e sinto uma vontade quase incontrolável de parar o tempo e recuperar aquela criança cheia de sonhos e do sorriso mais lindo do mundo. Criança, teus olhos brilhavam, e como brilhavam! E teu riso invadia a sala e ecoava dentro de mim. Quando falava de teus sonhos de mudar o mundo e mais do que isso, você mesmo, me dava orgulho, e força de vontade para realizar os meus também. Onde estão todos eles agora? Onde estão todos aqueles que você enchia a boca para dizer seus nomes?

Eu queria te falar de tantas coisas, mas é tempo que te falta. E você só me liga quando não tem mais ninguém para conversar. E tem coisas que eu não quero saber de você, e são sempre essas coisas que você vem me contar. Eu quero saber como você está, eu quero saber do seu profundo.... era jornalismo que você queria fazer na faculdade, não era? Onde está este seu sonho agora? Onde estão teus amigos de colegial? Disso você não vem me falar.

Você me diz que anda trabalhando muito, que anda estudando, que toma café no ônibus e vai a pé para o colégio, que não quer mais fumar, mas quer sair para beber algum dia. Me pergunta se tenho dia livre para me encaixar na TUA agenda. Se for assim, eu não quero ter tempo para você. Me diz quão maravilhosos são os TEUS novos amigos, mas nunca pretende me apresentá-los, é como se eu fosse teu elo com o passado, o que te prende àquela inocência escolar, as brincadeiras e as poucas responsabilidades. Eu cresci também, se você quer saber.

Eu fiz novos amigos, eu tenho outros horizontes, conheci diferentes pessoas, e experimentei novos gostos, novos lábios e olhares diferentes ou semelhantes aos teus. Mesmo assim eu não me esqueci de você, queria que você estivesse me acompanhando em cada momento, imagino o que você me diria se me visse em cada situação pelas quais já passei... É engraçado como nossas conversar agora começam somente por um único tópico, e termina, quando não tem mais nada para rever sobre este tópico, não é mais a mesma coisa. Você não pergunta mais de mim, de como estou, se estou namorando ou gostando de alguém, como estou no colégio, e como anda as coisas aqui em casa "soube que você brigou com seus pais, está tudo bem?" , e mesmo que eu não respondesse, é bom saber que você se importa.

Não é que eu dependa de você. Não, sou feliz comigo e meu reflexo no espelho, meus monólogos noturnos e meus sonhos fantasiosos. Eu só queria ter a segurança em ti. E saber se voê tem essa mesma segurança. Eu não vou implorar, eu não vou fazer birra nem chilique, para você me dar atenção, dizer que você não gosta mais de mim, porque isso eu não tenho como saber. É que seria tão bom, tão melhor, se nossas conversar passassem muito além do "olá, tudo bem?"