segunda-feira, 27 de abril de 2009

Redenção.

Cavei minha própria cova e me enterrei nela sozinha, enquanto uma corda não me deixava cair, eu me arrastava até ao fundo, aos vermes brindá-los. Eu desci até o fundo, engolindo barro, raízes, minhocas e restos de quem ali fora antes enterrado. Mas a corda me puxava, eu fazia questão de ir contra, de querer arrebentá-la, mas para uma corda velha, ela estava firmemente estendida.

Não ligo, eu fui ao fundo e pretendia lá ficar. Testar minha força, ver se sou capaz de escapar sozinha, uma volta triunfal digno de espetáculo de Houdini. Eu não sou ilusionista. E nem uma ilusão.

Até que então a terra encobriu minhas narinas, e senti meu pulmão pesar, eu queria tossir, mas lodo descia-me goela abaixo. Minhas unhas negras, meus braços forçavam-se para cima, meus olhos, lacrimejavam, enxergava tudo negro. Era o fim.

A confirmação, de que não sou Houdini. A corda me levantou, pude então suspirar. Fiquei de joelhos no chão, olhei aos céus - negro como olhos que nunca vi antes, pareciam querer chorar- e orei. Não por mim. Por mim não, eu não mereço.

Abri o whisky e entornei o resto da garrafa. Vomitei. Terra, larvas, etanol e sangue. Vermelho. Sangue. Andei deixando rastros por onde passei. Meus passos pareciam escrever os fatos daquela noite.

Entrei em um lugar, onde nunca imaginei voltar : Igreja. As paredes pareciam me sugar, os quadros me vigiavam com olhares piedosos, os vitrais azuis deixavam o céu ainda mais escuro. sentei e fiquei lá. Atônita de palavras e de sentimentos.

Fui então, e acendi uma vela. Haviam vasos de flores - a maioria branca, e algumas rosas de cor salmão - murchas, algumas oferendas que me assustaram, e muitas velas queimando. Acendi três velas. O meu desejo era me queimar naquele fogo e me jogar ali nas cinzas e resto de parafina.

Já era dia e deixei o cemitério, junto com os mendigos e os cachorros que os acompanhavam, suja de corpo e alma. Entrei em casa, tomei um banho. Vomitei. E fui dormir, enquanto outros partiam, eu fiquei.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Dramin

Deus é testemunha do meu coração, e eu não sei o que eu quero e espero. Sei que seu inteiro, não é minha metade, você já deixou isso bem claro. Mas porque agora, é tão difícil olhar em teus olhos, mesmo eu sabendo que tudo que você diz é verdade?
Eu não me perco mais em teus olhares, estão tão longe de mim...

Eu não me importo mais, os remédios fazem efeito, e o tédio corriqueiro, bem, continua sendo o tédio. Eu passo o tempo em outro lugar, com pílulas ou bebidas, ou os dois juntos, as vezes muitos. Não me arrependo.

Eu não queria ter chorado na sua frente. Eu me arrependo.

Mas é para você ver, que eu não sou de pedra, e o que senti foi real. Mas estou disposta a desistir de você, vou jogar esse jogo conforme suas regras. E nesse meio tempo, não diga as mesmas desculpas, porque eu nunca consigo retrucar, me frustro com minha incapacidade de lhe quebrar a cara no chão.

Eu escuto músicas tão patéticas, eu me sinto patética, mas não acho nada reconfortante... Estou tão longe, no momento, de ser racional, me sinto um desastre, nunca satisfeita...

Eu não sei o que espero. De você não espero. De mim, esperava ser mais forte, mas a experiência para mim nada valeu.

Uma outra chance, talvez eu devesse me dar ao luxo, uma outra chance.

Eu sei que vou me cansar, aliás, já me sinto cansada, mas sei que existem tantos outros, nas prateleiras, em estoques, em bares e festas.
Não espere muito de mim, não posso ir muito longe, estou disposta a tentar, a ir até onde sei que sou capaz.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Cerâmica.

Enquanto ela estava na minha frente, eu não pude perceber sua beleza, aquele brilho todo ofuscava minha vista. Eu fiquei ao seu lado, mas nunca a olhei com deslumbre, eu ouvia sua voz mas mão me dava ao luxo que escutar a melodia, eu olhava em seus olhos e não enxergava nada além de dois olhos verde claro, para mim, não passavam de um belo par de olhos. Ela era vazia como uma cerâmica. Frágil, bela, delicada, e vazia. Eu tinha medo de quebrá-la, porém quando eu a encostava eu sentia o calafrio de sua pele, eu podia sentir que havia sangue correndo em suas veias. Era a única coisa que a diferenciava de uma cerâmica. Ela respirava e tinha calor.

Meus dedos a tocavam, mas nenhum toque era com desejo, meus olhos fitavam cada traço de seu corpo, mas nunca com intenção de gravar aquela imagem, minha boca pronunciava seu nome, mas nunca por instinto. Eu não sabia porque estava ao seu lado, eu simplesmente estava.

Hoje, sinto pena de mim mesma, pena de não ter aproveitado sua presença viva ali comigo, de não ter estado presente de corpo e alma em todo momento que ela estava ali. Ela poderia ter fugido, ela poderia ter feito melhor...mas não...hoje eu não posso ver aqueles olhos verdes profundamente meus, aqueles olhos verde claro que entregavam sua alma inteiramente, sem nenhum obstáculo, sem nenhuma mentira. Eu não posso mais tocá-la com atenção e sentir isso de volta.

Minha boca a chama para ver se ela responde, meus olhos a vigiam, para ver se ela retribui, aquele brilho todo ainda existe mas não por mim, aquelas asas ainda voam, mas não me protegem mais.

domingo, 19 de abril de 2009

Percebe o erro?

Essa voz usa as palavras certas para me conduzir, e não demora muito para eu me deixar levar inconscientemente, e quando acordo já estou longe de casa... Isso me deixa com muita raiva porque eu deveria resistir, eu deveria dizer não quando fosse necessário, mas graças a educação que meus pais me deram, eu não sei recusar um pedido.

E depois você me pergunta o porquê desse olhar de reprovação, eu não te reprovo, eu só não aprovo o modo como eu facilmente deixei escapar pelos cantos todas as frases já decoradas que eu deveria saber a hora certa de dizer. Eu balanço meus ombros como " Fazer o quê" e você nunca entende disso, acho que isso te estressa. Mas fazer o quê. Eu preciso me decidir de alguma forma. Se for preciso será assim.

Você nunca me trouxe bons ventos, e o vento que você me trouxe apagou a minha única fonte de luz e calor, de que serve todo esse turbilhão, se for para destruir refúgios? Se bem, que qualquer cabana disponível, eu já estaria me abrigando. Mas aquela única fonte, que me assegurava tanto, a única que eu sabia que conseguiria controlar para sempre, você apagou. E o que restou foram cinzas, mas isso me alivia porque aquele turbilhão todo foi embora, e garanto, que nunca voltará.

E eu não sei o que dizer, e dou de ombros tenho quase certeza que você consegue ler minha mente, e logo fujo para evitar assunto mesmo. Não que eu não tenha assunto, mas é que eu não quero tocar naquele assunto. É sempre bom te ver, isso eu assumo, mas as pessoas ao redor te constrangem, e eu desejei um tempo a sós como costumávamos ter antes. Agora, o tempo não nos pertence mais...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Introspectiva.

Sem emoção,
nem movimento.
Apenas desenhos.
Colecionando fotografias, ela cria diálogos e situações,
e mergulha inteiramente na sua vontade
de ter uma vida compartilhada com algum motivo
que complete o seu de existir.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Superinflando o ego

Eu sou muito foda.

Só para eu me sentir bem.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Seu nome é sua virtude

Seus lábios são labirintos que me chamam.

Essa parte eu não me lembro bem, não sei se eu que adicionei, se ouvi bem, se eu que quis que fosse assim... Eu só lembro de um nome. E mais essa parte também:

Eu fui sincero como não se pode ser

Mas eu falei sem pensar, com o coração em uma mão, e na outra uma arma de corte.

"Eu olhei nos teus olhos quando você me disse isso, agora olhe nos meus."

Eu queria tanto que o silêncio se explicasse por si só. Eu não tenho coragem de te olhar, como você disse, "um olhar de desprezo" ou algo parecido. Não tenho coragem de te olhar, não assim tão diretamente.

Eu não consigo ser assim, assim como? Assim eu não sei. E não me importo agora. Com nada agora. Nem com o agora. E escrevo sem me importar com consequências, com compreensão, ou interpretação.

Só sei que subi lá e arrebentei, vomitei tudo para fora, o mais alto que consegui, o mais sujo que poderia sair, o menos óbvio e esperado. Vai me dizer que não te surpreendi? Pode me elogiar depois, pelo espetáculo.

Morri e resurgi, precisei sentar e respirar. O que acabou de acontecer? Foi assim... pisquei os olhos e já estava em casa, com os ouvidos zunindo, ouvindo aquelas vozes, como se fosse virar pro lado e encontrá-los.

Fiquei atônita pelo resto da tarde, do dia, e a noite, o que acontece a noite? Repaginando e reconsiderando foi melhor assim. Foi? Não me responda mas haja como se nada houvesse acontecido no dia anterior.

Sou uma desconhecida... mas posso provar o contrário.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Tudo que eu ainda não vi.

Eu quis o perigo, e até sangrei sozinho, entenda...
Tentei chorar e não consegui.

De que vale um espelho, se vemos apenas um reflexo? Nunca é um inteiro. Nunca somos inteiros... E, se ao olhar o espelho, eu vejo minha imagem, ao contrário, quer dizer que é assim que as pessoas me vêem? Ao contrário do que sou? Se é que sou...

E se não sou um inteiro, e as pessoas me vêem ao contrário, quer dizer que elas vêem a metade que me falta? Mesmo que eu não saiba dessa metade, ou que saiba, ou que eu finja saber, ela existe mesmo?

Ou é um vicio de usar pessoas para desculpar meus erros? São coisas que eu, obviamente, não admitiria que faço. Mas só por dizer isso, estou admitindo, e você irá me desculpar por isso?

Eu me revelo minhas dúvidas em poucas linhas,e não ligo, porque sei que é tudo redundante, nenhuma resposta me satisfará. E eu não procuro respostas, as perguntas já me valhem.

As pessoas que procuram respostas são as que morrerão cheias de dúvidas.

E eu tenho lá minhas dúvidas.

domingo, 5 de abril de 2009

A competição que nunca ganhei.

Não é novidade que eu não tenho em meu quarto algumas medalhas, condecorações, troféus, prémios nas minhas estantes. A verdade é que eu nunca fui boa em competições, tanto individual quanto em grupo. Para mim sempre levei apenas na brincadeira, eu só queria me sentir bem. Ganhar...não sei se é tão importante assim.

Isso me afeta de forma tão direta, pois raramente vou atrás do que eu almejo, ou faço um esforço para conquistar algo. Não tomo riscos. E neste ponto da minha vida, no qual estou prestes a completar 16 anos daqui alguns dias, percebo que minha evolução, como ser humano, foi lenta e pequena. Nem sei se posso dizer que houve evolução.

Acontece que, ao parar e observar o que ocorria ao meu redor, percebi que muitas pessoas que eu julgava conhecer, mudaram tão bruscamente, que eu me senti estagnada e congelada em um momento, que eu não sinto vontade de sair, mas ao mesmo tempo eu sou levada, quero dizer, eu me deixo ir conforme o momento. Mas a escolha deveria ser minha. E eu escolhi, não escolher. É como se eu simplesmente assinalasse Nenhuma das Alternativas Anteriores.

Ao mesmo tempo eu sei que não posso continuar assim, nem pelo futuro previsível. Digo, o futuro que finjo prever. Solução? Pra começar, não sei se isso é um problema. Ou apenas uma característica da minha personalidade. Mas essa "característica" está, na verdade, me limitando. Pois sei que não posso continuar ou querer ser algo que não me beneficia.

E toda essa história me deixa vulnerável, na posição de caça, e nunca de caçador. E quando cantarei minha vitória? Mesmo ela estando longe, eu quero poder dizer que consegui isso com meu esforço. Ah, assim, até parece que as coisas vêm ( esse acento existe? ) fácil para mim, pelo contrário. E por esse motivo, muitas vezes elas nunca chegam.

Apesar de ter o meu objetivo estabelecido, os meios que procuro para chegar até lá não são os mais viáveis, e muitas vezes são tortuosos e isso me distrai do que havia planejado no inicio. E acabo demorando tempo demais para me fazer desistir. E Deus sabe, eu não gosto de desistir. Mas é a condição.

E para a desistência não ser mais uma opção, os riscos que devo tomar são maiores, o que me deixa assustada, já que sempre viso a segurança, pois sempre, as chances de perder e de me quebrar são muito maiores do que a chance de cumprir o estabelecido. Preciso de um alicerce mais firme, para que eu não precise mais ter medo de arriscar e de me machucar.
Eu sei que se eu cair, vou me levantar.

sábado, 4 de abril de 2009

Siga o Mundo.

A repressão dos meus desejos? Admito, bigodudo, o senhor tem razão. E não me acanho e logo digo que minha curiosidade é tamanha para saber mais sobre o que quer dizer, sei porém, que irei discordar e discutir, afinal, isso já faz parte de mim. E indubitavelmente (ah, santo dicionário) irei me contradizer, por vezes não por palavras, por atos, mas por pensamentos, e alguns deles que eu desconheço. E o que dirás disto? Seria meu id, meu ego, ou superego? Ou apenas eu querendo fingir algo, fazendo dos diálogos uma peça de teatro?

Sei que meus monólogos, os quais eu já me acostumei em escrever, me despem em vários sentidos, e expõem, ás vezes de maneira fosca, ás vezes de maneira bem clara, mais do que deveria até, tudo o que eu sinto, penso, e sou. E muito deles são baseados em minhas fantasias e meus sonhos, é aonde o bigodudo entra...

Ah bigodudo, se o senhor soubesse o meu interesse pelas tuas descobertas... Acho que nem faria tanta diferença, já que há muitos seguidores e discípulos espalhados por aí pregando teus pensamentos, e foi por meio destes que chegou até meus ouvidos, explicações e questões cujas precisava ouvir...

Como eu não levo a sério as palavras de pessoas ordinárias que me dizem tudo o que eu preciso ouvir, mas preciso sempre de uma explicação plausível e aceitável para isso, ter uma explicação comprovada em experiências e fatos, me fez perceber que não ajudará em nada tentar afogar, afugentar coisas que ela deveria saber. ela, ele, eles, aqueles...

Tudo o que eu reprimo, um dia me reprimirá... Eu preciso, pelo menos eu quero acreditar nisso, deixar as coisas fluírem naturalmente, ou interferir no curso, para que pareçam naturais. É tudo uma questão de instinto. O que você me diz disso, ahn? Confuso, pode ser. Faz sentido para quem vos dirige a palavra.