sábado, 3 de setembro de 2011

Terra rasa

Eu já fui teto, eu já fui ponte, mas nunca fui chão.
Quando fui teto, me dividi em mil telhas, mas como mil telhas dividas, não fui um inteiro, e cai parte a parte, mesmo sem tempestade. Eu fui de barro, me rendi ao sol que me rachava e a chuva que me escorria.
Quando fui ponte, estiquei meus braços de margem à margem de um rio, um rio fraco que não precisava de mim, quando fui ponte, eu fui pelo rio, e não por mim, eu era o rio e não a ponte. Eu fui tanto o rio, que a água escassa, mesmo escassa me levou, e nunca mais inteira eu fui.
Agora, chão eu nunca fui, eu precisaria de mais fogo, porque barro eu já sou. Sou barro frágil, minhas partes arrancadas, são modeladas e transformadas, sou eu, mas não sou.
Sou barro podre e mole, Sou só barro, mas não o que sou.
Eu já fui teto
Eu já fui ponte
Mas chão...

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