Eu já fui teto, eu já fui ponte, mas nunca fui chão.
Quando fui teto, me dividi em mil telhas, mas como mil telhas dividas, não fui um inteiro, e cai parte a parte, mesmo sem tempestade. Eu fui de barro, me rendi ao sol que me rachava e a chuva que me escorria.
Quando fui ponte, estiquei meus braços de margem à margem de um rio, um rio fraco que não precisava de mim, quando fui ponte, eu fui pelo rio, e não por mim, eu era o rio e não a ponte. Eu fui tanto o rio, que a água escassa, mesmo escassa me levou, e nunca mais inteira eu fui.
Agora, chão eu nunca fui, eu precisaria de mais fogo, porque barro eu já sou. Sou barro frágil, minhas partes arrancadas, são modeladas e transformadas, sou eu, mas não sou.
Sou barro podre e mole, Sou só barro, mas não o que sou.
Eu já fui teto
Eu já fui ponte
Mas chão...
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