Quero um dia transformar
toda dor em arte,
toda lágrima em palavra,
em beleza, toda ferida que arde.
O sangue é tinta,
é pixe nas ruas cinzas,
colore tristemente o sadismo cotidiano,
tortura as veias entupidas de carros e fumaças e pessoas,
as veias que enforcam, e pulsam um pulso ratificando a vida,
"eu vivo, vivo, vivo".
O nós desfeito não desfaz o nó
e o pulso pulsa retificando a vida
"não vivo, não, não, não"
O verbo cantado, a palavra vivida e o filme gravado com olhares
e luz do sol, ácido de chuva, água de saudade
o asfalta preto, queimado, derretendo, grudando na sola do sapato
a carne morta, a carne trêmula, lábios falsos.
O sol, ladeira, cerveja e saudade.
Toda dor trafega as artérias, rasgando livremente, autônoma dor,
toma forma, é vomitada, e grita.
Não é arte, por que é feia.
Arde os olhos.
Não é arte, por que é minha.
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