sábado, 5 de maio de 2012

17

Cinco de Abril, 2011
Sobra no meu peito
o teu sorriso que me invade,
nesses todos carnavais
em que estive mascarado.

Paguei os meus pecados
sob a fantasia de frade.
Orei, meus olhos fechados,
chorei, de alma embriagada.

Colhi as flores desse asfalto
Nesses todos carnavais,
nesses tantos carnavais.

Fecharam-se os punhos
no meu rosto inválido
Casaram-se os castos
no altar pagão dos atos,
e a cena se repete:

Vinte quadros mudos,
a música celebrando
os brasileiros surdos,
às fantasias do Planalto.

Braile

Com o peito aberto,
escancarado,
todo dado
o vadio...
A natureza é uma linguagem
de difícil leitura,
fácil descrição,
enganosa interpretação
E eu...
Que não sei nem ler os teus olhos,
saberei ter
o teu coração sem dono?
Vira-lata que sou...

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Chagas

Meta o dedo na ferida
e diga que não é verdade,
diga que não é úlcera infecciosa,
diga que não é carne trêmula.
Meta o dedo na ferida,
e sinta o fel escorrer,
sinta o sangue pulsar,
o vermelho ferver.

Meta o dedo na ferida,
e negue que é tua.
Se é tão melhor quanto finge ser,
se é tão maturo,
honesto,
seguro,
superior.

Se é,
porque mente?
Monta teu caráter,
apontando o dedo na cara de Judas
e beijando a outra face de Jesus.

Vive uma vida negando a imortalidade de seus atos,
se é tudo efêmero,
para que padecer de preocupações?

Minta, tua vida toda,
equilibrada entre o errado e o incerto,
mas não venha contar,
não venha me cobrar
as responsabilidades,
os atos,
os fatos,
que você não teve.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Nem

Dei-me a chance de ser feliz,
e não valeu a pena,
a culpa é minha
mas não peço perdão.

O quê?
Sou errada pois a definição que tenho de felicidade é diferente da tua?
Sou errada pois minha concepção de amor não pode ser dividido em dois?
O quê?

Libertei todo meu sexo escarrado
emaranhado de sentimentalismos e hormônios
e alegrias efusivas e efêmeras de um drama juvenil.
Me fodi.

Teci toda racionalidade que fui capaz,
traduzindo em que porra fosse a emoção que pude sentir.
Me tornando eternamente o silêncio, o espaço em branco
entre o que pensei,
e o que quis dizer.

O que eu pensei muito...
não senti.
O que senti muito....
não disse.
Hoje, nem...
Me fodi.

sexta-feira, 16 de março de 2012

2n

Nunca sei como devo sentir,
Bem verdade, eu sinto.
eu não sei como agir.

Tornamos frágeis toda vez que o pulmão impulsiona o suspiro necessário para,
com apenas algumas palavras,
alguns poucos segundos,
que seu corpo estremece todo,
e se arrepia toda espinha,
suas pupilas dilatam,
a fragilidade da primeira infância,
e um zigoto felicidade se concretize pelo som.

Um projeto, uma fecundação de alegria,
se explode, aparece num gozo de voz,
numa satisfação mental,
e logo em seguida:
o medo.
- e se engravidar?
e se pegar?
e se abortar esse quase feto?

Não é nem humano, apesar de sair de um.
Muda uma vida,
É uma vida.

terça-feira, 6 de março de 2012

Ponto de vista

Meus olhos abertos sonham demais
confudem a curva dos meus lençóis, com a do algodão de roupas alheias
esse seio não é meu travesseiro
mas bem ficaria deitado ao meu lado
junto ao meu
e não me importaria onde começa a extensão de um corpo
e onde termina o de outro.

Acontece que sou frágil
levanto vôo e caio fácil demais
os teus sinais... ah teus sinais
cansei de recolher os pontos de interrogações que eles deixaram pelo caminho
e rio então,
o que sobra pela falta de resposta,
ou pela falta de pergunta
"O que você quer dizer?"

Me agrada te ver sorrir
e envermelhar tuas bochechas
e coça a lingua de te elogiar
eu só rio
sorrio
disfarço
e cresce outra interrogação
"O que você quer?"

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Infante

Me desprendendo dessas cordas, o espetáculo deixou de ser meu
Sou coadjuvante da minha própria história,
Se sou assim, quem sou então?!

Sou boneco, mas não fantoche,
os dedos que me guiam não são invisíveis
A minha própria mão, argamassa meu destino
meu próprio indicador, aponta a direção
e se sujam com as consequências,
todo argiloso e quebradiço,
como barro deve ser.

Sou boneco velho, remendado,
sujo de lembranças,
cicatrizado de passado,
maltratado pelo presente
e desconhecido do futuro.

Sou criança em uma embalagem que não me cabe,
me aperta a posição,
me sufoca o plástico,
me cega o papelão.

Sou um coração pequeninamente imenso,
raivosamente carinhoso,
triste esperançoso,
equilibradamente embriagado de vida.

Sou um reflexo em construção,
o espelho não para de crescer.