São tantos envelopes e eu não vejo o porquê, é tanta tinta desperdiçada, tantos papéis rasgados e espalhados pelo chão. Eu não sinto a menor vontade de recolher tudo isso, a cada papel que seguro em minhas mãos, sinto as palavras deslizarem pelos meus dedos e me mancham de uma cor que eu não quero sentir penetrar em minha pele. Eu já esvaziei todo meu coração, eu não sei mais o que posso escrever à você. Você me cobra tantas lembranças que eu não posso agüentar, deixe-me ter o meu momento. Não de paz. Mas meu.
Deixe me revirar minha casa em busca de objetos, em busca de imagens, em busca de cheiros....deixe acontecer, no seu rumo natural, deixe eu segurar minha respiração para evitar contradições sairem da minha boca.
São tantos papeis rasgados, são tantos brilhos, tanto dinheiro desperdiçado que chega a ser irônico. Tanto blá blá blá, que eu não sei onde estou e porque estou. São tantos envelopes sujo de vinho, eu chego a me confundir com sangue e me dá medo. Porque eu sei dos seus papéis sujos de sangue. Isso não me traz boas lembranças, mas você me cobra tanto por boas lembranças, eu fico com dor de cabeça, voce me pede tanto para ser maior, que eu não sei se sou capaz, você, eles, ela, aqueles....todos imploram por amor, mas ninguém quer dar o primeiro passo.
Eu não quero me levantar dessa cadeira, apesar de eu estar na chuva, e novamente eu não tenho poder, dessa vez, de parar a chuva. Se eu cair, se eu ficar doente, se eu chorar, eu não me importarei, e ninguém se importará, quem está na chuva é para se molhar, e eu não quero mesmo que se importem, só quero que saibam que estou viva ainda.
As palavras se derretem e a chuva as leva consigo, mas não tira de mim essas marcas, esses rastros de tinta, esse cheiro de caneta barata, essas palavras encravam na minha pele, e eu tenho vontade de arrancá-la fora, antes que atinjam meus ossos e me adoeçam por inteira. Eu tento, para mim mesma, ser mais suficiente, mas é claramente percebivel que estou acabada, eu não adimito isso. Eu não adimitirei que me corrompam e me transformem em qualquer lixo orgânico, qualquer fumaça e cinzas, não.
Eu não deixarei qualquer papel manchado ser únicas lembranças, você verá e sentirá por dentro essa surpresa, qualquer turbilhão de emoções, você saberá. E por mais que a chuva lave sua janela, do lado de dentro haverá sempre a mesma sujeira, as mesmas lembranças, o mesmo eu.
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