Cavei minha própria cova e me enterrei nela sozinha, enquanto uma corda não me deixava cair, eu me arrastava até ao fundo, aos vermes brindá-los. Eu desci até o fundo, engolindo barro, raízes, minhocas e restos de quem ali fora antes enterrado. Mas a corda me puxava, eu fazia questão de ir contra, de querer arrebentá-la, mas para uma corda velha, ela estava firmemente estendida.
Não ligo, eu fui ao fundo e pretendia lá ficar. Testar minha força, ver se sou capaz de escapar sozinha, uma volta triunfal digno de espetáculo de Houdini. Eu não sou ilusionista. E nem uma ilusão.
Até que então a terra encobriu minhas narinas, e senti meu pulmão pesar, eu queria tossir, mas lodo descia-me goela abaixo. Minhas unhas negras, meus braços forçavam-se para cima, meus olhos, lacrimejavam, enxergava tudo negro. Era o fim.
A confirmação, de que não sou Houdini. A corda me levantou, pude então suspirar. Fiquei de joelhos no chão, olhei aos céus - negro como olhos que nunca vi antes, pareciam querer chorar- e orei. Não por mim. Por mim não, eu não mereço.
Abri o whisky e entornei o resto da garrafa. Vomitei. Terra, larvas, etanol e sangue. Vermelho. Sangue. Andei deixando rastros por onde passei. Meus passos pareciam escrever os fatos daquela noite.
Entrei em um lugar, onde nunca imaginei voltar : Igreja. As paredes pareciam me sugar, os quadros me vigiavam com olhares piedosos, os vitrais azuis deixavam o céu ainda mais escuro. sentei e fiquei lá. Atônita de palavras e de sentimentos.
Fui então, e acendi uma vela. Haviam vasos de flores - a maioria branca, e algumas rosas de cor salmão - murchas, algumas oferendas que me assustaram, e muitas velas queimando. Acendi três velas. O meu desejo era me queimar naquele fogo e me jogar ali nas cinzas e resto de parafina.
Já era dia e deixei o cemitério, junto com os mendigos e os cachorros que os acompanhavam, suja de corpo e alma. Entrei em casa, tomei um banho. Vomitei. E fui dormir, enquanto outros partiam, eu fiquei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário