quarta-feira, 20 de maio de 2009

Árvore oca.

O dia estava amarelo. Aquele dia estava. Apesar de, ao amanhecer, ele parecer um pouco verde água, ao longo mudou para amarelo. Pelo menos durante a parte da manhã, quis eu assim pensar.

Passei bem minhas horas amarelas durante a manhã. Até que, em um dos poucos momentos azuis do meu dia, um sinal me pôs de volta ao chão -cinza. Meus planos pro meu dia amarelo saíram do curso, Tive então que seguir um trilho esfumaçado ao caminho de casa.

Quando cheguei em casa meu dia já estava pardo, e foi escurecendo e derretendo. Meu apetite se foi, e parecia que eu mastigava pedras e dejetos durante o almoço. Peguei uma fruta ácida para tentar espantar essa sensação. Não. Só aumentou Conforme o gosto ácido descia minha garganta, desciam também as palavras, repetidas apesar, ácidas para meus ouvidos. Pareciam perfurar lentamente meus tímpanos e ir rasgando sadicamente meu orgulho. Ah e meu orgulho é grande...

Meu dia já estava, a esse ponto, em gravidade zero, marrom poluido, derretido e lento. Eu, cansada de ter ouvido tudo o que já pude decorar, apenas acenava a cabeça concordando ou discordando. Eu não me ajoelharia, o que esperado, para pedir desculpas. Não, o meu orgulho é muito grande. As frases irônicas não hesitavam em sair, atropelando minhas lágrimas e todo o resto. "Eu não tenho amigos não é mesmo? HAHAHAHA."

Até que então, devo admitir, veio o golpe de mestre. Parecia até ser planejado, pois serviu tão bem ao momento (eu de cabeça erguida, ferida, com os olhos encharcados, mas sem chorar, nunca chorar). E lá veio, como uma espada certeira "Você não tem sentimentos?" eu me virei lentamente, minhas pupilas dilatadas começaram a voltar ao normal, minha expressão parecia dizer "Como você disse?" e veio mais uma vez, mais forte agora, "Você não tem sentimentos ai dentro?"

Eu quis chorar, mas sabia que seria fingimento. Na hora, realmente, eu não sentia nada. Remorso algum, nunca(!). Meu dia escuro abria umas frestinhas de luz, era minha chance. Falei. Desabei. Desmoronei. Me desarmei. Foi tudo controlado, contado, calculado, passo por passo. Manipulei.

Minha intenção não era ganhar o jogo, era perder propositalmente, pois para mim, seria um empate, que consequentemente levará a minha vitória futuramente. Meu dia já não era mais amarelo, era agora laranja. Ficou assim até o anoitecer.

Mas aquilo, me doeu. Doeu. Pois sei que é, talvez em partes, verdade. "Você não tem sentimentos ai dentro?" Ai dentro... Aqui dentro é oco por acaso?
"Aja menos com a razão, e mais com o coração viu? Me dá um abraço..." Razão? O que eu fiz não foi sentimental o suficiente para você?

É oco por acaso? Ele bate por qual motivo então?

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