terça-feira, 16 de junho de 2009

Girassol

E todo dia, eu ia brincar e construía um castelo de areia. Cada dia era diferente, uma torre maior que a outra, o telhado reto, uma folhinha no meio... mas todos caiam, talvez o alicerce era fraco. Ou o vento mais forte que minha vontade...

Um dia porém, eu me surpreendi. Construi o castelo mais alto, mais resistente, e mais bonito que já havia feito.Estava com tanto medo que o vento o levasse. Construi então a sua volta um cercadinho com gravetos. E as crianças invejosas da vizinhança? Escrevi em uma folha :

NÃO ULTRAPASSAR O CERCADINHO, NÃO BRINCAR COM O CASTELINHO
Pendurei no cercadinho... E se chover? Não tive tempo de pensar nisso, minha mãe me chamava para a janta. Ao ver no jardim o castelinho, mamãe achou bonito, mas disse que não havia espaço para ele ali, eu pedi que por favor não o derrubasse, pois no dia seguinte queria mostrá-lo as minhas amigas, o que era mentira, eu não queria dividir ele com mais ninguém. Papai viu e gostou, gostou que ficasse lá. Mamãe acha que eu brinco demais, papai acha que brincar é bom.
No dia seguinte fiquei satisfeita -aliviada aliás - que ele ainda estivesse intacto. Decidi nomeá-lo, seria então chamado : Girassol. O meu reino Girassol. Meu reino de areia. Coloquei nele cinco bonequinhos meus, e nomeei-os também, cada qual com sua coroa e importância no castelo. Todos mandavam e desmandavam, mas um, um deles se sobressaía, deixei-o na torre mais alta e mais bonita - a qual ficava a bandeira do reino. E a minha bonequinha mais bonita, com a coroa mais bonita ficava mais a frente, protegida por duas outras torres - nas quais ficavam, em cada,
um bonequinho com a mesma função e importância. Atrás das torres ficava o último bonequinho, lindo, porém mais fraco, por isso atrás, para ser protegido.
Todo dia eu pensava em algo novo para meu castelinho, não!, meu reino, o meu reino. Uma fitinha, uns tijolinhos...Era tão lindo, eu sonhava com o reino... Meu sonho de areia.
Mas a cada dia, ele se desmanchava um pouco, era tão frustrante. Eu o montava e remontava, apoiava-os com palitos, gravetos, peças de outros brinquedos. Mamãe não gostava que eu levasse todos meus brinquedos para fora, brincar com o castelinho de areia. Eu retrucava dizendo que precisa proteger meu reino . Mamãe dizia que eu sonhava demais, papai dizia que sonhar é bom.
Ele era tão frágil, tão... de areia. Um dia mamãe tentou varrê-lo, quando vi, eu briguei muito com ela, mas uma parte, a que ficava o bonequinho mais lindo, caiu, ele, por ser mais fraco, "morreu" ali. Fiquei triste, mas decidi continuar com os outros quatro...Mas não era a mesma coisa, meu coração parecia bater cada vez mais fraco pelo castelinho... Agora era apenas um castelinho.
Passei a brincar com ele apenas uma vez por semana, duas vezes por mês...até a chuva levá-lo.
Eu mantive os bonequinhos e suas coroas sujas de areias, vestígios do meu reino, eu brinco, eu converso com eles, eu conto a história do meu reino, do meu coração que se via no reino, na minha fantasia que ele não apenas reinasse, imperasse. Na minha vida... não passou de um sonho. Um sonho de areia. Mamãe diz que me frustro demais, e eu acho que ela pode estar certa.
Mas sabe, de todos os sonhos de areia que eu tive, este foi definitivamente o que mais me fez feliz.

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