sábado, 15 de agosto de 2009

O medo da perda da autonomia

Acordar às cinco da manhã, não parece acordar, parece fazer o sol nascer. E assim senti vendo o sol da janela. Digo, pensei sentir, pois não tinha sono, necessidade de cafeína ou pique para o dia. E o dia se passou como um vídeo-clip, um filme, uma fotografia que não era minha, era ali do outro lado, do espelho.

Eu era a narradora do dia, lendo as faces e suas expressões, eu era a observadora, de pouca fala, muito pensamento, eu escrevia em minha mente, me parecia em casa sentada em frente a um caderno aberto e não ali, naquele lugar.

A minha falta de resposta, para mim, era previsível. Eu sabia o que dizer, e como dizer, simplesmente não tinha vontade de fazer. Antes fosse que me forçasse a dizer, assim levando acreditar quem quer fosse que eu direcionasse. Poderia ser que eu me arrependesse, mas seria como eu estivesse anestesiada sensorialmente - a minha voz não é minha, as palavras não são minhas. Como só o meu corpo me pertencesse.

A verdade é que eu não sinto vontade, não sinto saudades, não sinto necessidade. Eu substituiria tanta coisa facilmente por qualquer outra coisa até uma pedra. E uma pedra seria menos chata que muitas pessoas. Eu vejo a vida como um filme. Eu só assisto e não sinto como se a história fosse minha, é só uma história e meu coração pulsa de qualquer forma.

Eu não reclamo do que acontecesse de errado pois sei que é passageiro, eu não tenho nostalgias de qualquer momento meu, se na hora eu sorri, foi naquela hora, não preciso mais sorrir por algo passado. E quando eu digo "eu te amo" me soa tão automático e mecânico que não sinto vontade de dizer, digo por que é isso que as pessoas gostam de ouvir. Eu preservo o amor, e acho que "eu te amo" só deve ser dito quando for verdadeiro. Para mim, só foi verdadeiro uma vez seriamente. Qualquer outra vez foi banalidade.

E tudo isso justifica porque eu digo que não sou uma boa pessoa. Pois tenho facilidade de esquecer quem passa na minha vida, pois sei substituir, pois finjo sentimentos e assumo isso (eu sei como eu deveria me sentir, eu sei o que eu deveria sentir, simplesmente não sinto), pois me sinto fosca, pois qualquer um poderia estar no meu lugar e eu continuaria sendo a observadora.

2 comentários:

  1. Eu substituiria tanta coisa facilmente por qualquer outra coisa até uma pedra.


    FATO

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  2. talvez - e só talvez - sejamos tao neuroticas e individualistas que pensamos acabar com qualquer coisa verdadeira que se aproxime. vai ver é por isso que não sentimos o que deveríamos sentir.

    só uma opinião,

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